O desmantelamento de uma rede internacional de tráfico de pessoas em Rondônia expõe a sofisticação do crime organizado, assim como as graves fragilidades do sistema de controle de fronteiras no Brasil. É alarmante constatar que uma organização criminosa tenha conseguido estabelecer, em pleno território nacional, um corredor logístico para transportar imigrantes ilegais da Ásia até os Estados Unidos.
A operação deflagrada pela Polícia Federal ontem revela um cenário perturbador: nosso estado transformado em centro do tráfico humano, com uma estrutura que envolvia desde agentes de viagem até proprietários de hotéis. Mais preocupante ainda é a constatação de que o esquema operava através da fraude de pedidos de refúgio, corrompendo um instrumento humanitário vital para quem realmente necessita de proteção internacional.
O modus operandi da quadrilha demonstra que o problema vai muito além da histórica vulnerabilidade das fronteiras amazônicas. O fato de estrangeiros conseguirem entrar pelo aeroporto de Guarulhos e serem rapidamente distribuídos para Rondônia evidencia falhas graves na integração entre os órgãos de controle migratório. Como é possível que um fluxo atípico de cidadãos asiáticos, sem qualquer vínculo aparente com a região, não tenha acendido alertas mais cedo?
A resposta passa necessariamente por uma autocrítica das autoridades brasileiras.
O país precisa urgentemente modernizar seus mecanismos de controle migratório e intensificar a cooperação internacional. Não é admissível que grupos criminosos explorem nossas deficiências estruturais para transformar o Brasil em rota preferencial do tráfico de pessoas.
O custo humano dessa atividade criminosa é imenso. Ao pagar US$ 10 mil por uma travessia perigosa e incerta, cada vítima não está apenas entregando suas economias, mas também colocando sua vida em risco. São pessoas vulneráveis, movidas pelo sonho de uma vida melhor, que acabam nas mãos de criminosos sem escrúpulos.
É fundamental que o sucesso da Operação Everest não seja visto como um ponto final, mas como o início de uma ação mais ampla e consistente. As prisões realizadas em Rondônia precisam desdobrar-se em investigações que alcancem as ramificações internacionais do esquema. Do contrário, corremos o risco de ver novas rotas sendo estabelecidas em outros estados da Região Norte.
O momento exige uma resposta firme do Estado brasileiro. É necessário reforçar o efetivo da Polícia Federal nas áreas de fronteira, implementar sistemas mais eficientes de controle migratório e estabelecer protocolos rigorosos de verificação de pedidos de refúgio. Paralelamente, é crucial intensificar o diálogo com países vizinhos para ações coordenadas contra o tráfico de pessoas.
Rondônia não pode continuar sendo vista pelo crime organizado como uma porta aberta para atividades ilegais. O descaso com nossas fronteiras cobra um preço alto não apenas em termos de segurança pública, mas também na dignidade humana de milhares de imigrantes explorados por essas redes criminosas.
Diário da Amazônia