Porto Velho (RO)23 de Fevereiro de 202506:58:06
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Búfalos na Rebio Guaporé: quando a omissão vira problema ambiental

Confira o editorial


O caso dos búfalos selvagens na Reserva Biológica Guaporé representa um dos mais complexos desafios ambientais enfrentados por Rondônia nas últimas décadas. O que começou como um pequeno rebanho de 36 animais, em 1953, transformou-se em uma grave ameaça ao equilíbrio ecológico e à credibilidade do setor pecuário do estado. A ação civil pública movida pelo Ministério Público Federal expõe a urgência de uma solução que contemple múltiplos aspectos: preservação ambiental, sanidade animal, viabilidade econômica e responsabilidade histórica. O crescimento exponencial do rebanho — hoje estimado em cinco mil cabeças e com projeção de alcançar dez vezes esse número até 2030 — evidencia como a omissão pode agravar problemas aparentemente simples.

É preciso reconhecer que a situação atual resulta de décadas de negligência por parte das autoridades locais. O abandono da antiga Fazenda Pau D’óleo, ainda no tempo do Território Federal do Guaporé, criou um passivo ambiental que só aumentou com o passar dos anos. A ausência de predadores naturais, combinada com a falta de manejo, transformou um pequeno rebanho em uma ameaça real à biodiversidade local. Os impactos já são significativos. A redução de 48% das áreas alagadas da reserva nos últimos 34 anos é um dado alarmante. A compactação do solo, a erosão e a alteração dos cursos d’água não afetam apenas o presente, mas comprometem a capacidade de recuperação futura do ecossistema. A ameaça ao cervo-do-pantanal, espécie já vulnerável à extinção, exemplifica como a presença desses animais pode desequilibrar toda uma cadeia ecológica.

Por outro lado, não se pode ignorar o aspecto sanitário e seu impacto econômico. Rondônia construiu uma reputação sólida no setor pecuário, com status sanitário reconhecido internacionalmente. A existência de um grande rebanho sem controle veterinário representa um risco real a essa conquista, podendo afetar toda a cadeia produtiva do estado. A solução proposta pelo MPF, envolvendo ICMBio e governo estadual, parece ser o caminho mais sensato. O prazo de dez meses para apresentação de um plano de erradicação é razoável, considerando a complexidade do problema. É fundamental que esse plano priorize métodos humanitários e minimize impactos ambientais adicionais.

O custo financeiro da operação, embora significativo, será certamente menor que o prejuízo causado pela inação. A recuperação das áreas degradadas, prevista na ação, é tão importante quanto o controle do rebanho, pois visa restabelecer o equilíbrio perdido. Este caso deve servir como alerta para a necessidade de ação preventiva em questões ambientais. O custo de evitar problemas é sempre menor que o de corrigi-los. A sociedade rondoniense precisa apoiar as medidas necessárias, compreendendo que a preservação ambiental e o desenvolvimento econômico não são objetivos excludentes, mas complementares.

O destino dos búfalos da Reserva Biológica Guaporé está agora nas mãos da Justiça Federal. Independentemente da decisão, é fundamental que a experiência sirva de aprendizado para prevenir situações semelhantes no futuro.

Diário da Amazônia

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