Porto Velho (RO)02 de Junho de 202507:42:28
EDIÇÃO IMPRESSA
Colunas |

Tecnologia encanta, mas exige sentido, critério e função

Confira o editorial


A presença de um domo geodésico interativo na 12ª Rondônia Rural Show levanta questões importantes sobre a função social da tecnologia, a comunicação institucional e o uso de recursos públicos em eventos de grande alcance. Estruturas imersivas como essa — que integram realidade virtual, projeção mapeada e interatividade — oferecem, sem dúvida, novas possibilidades de engajamento e disseminação de informações. No entanto, é necessário ponderar os limites, as prioridades e os objetivos envolvidos em iniciativas desse tipo.

O impacto visual do domo é evidente. Ele atrai, envolve e educa, especialmente em um contexto como o da Rondônia Rural Show, que é hoje uma das principais vitrines do setor agropecuário da Região Norte. A inovação tecnológica empregada na estrutura cumpre, até certo ponto, um papel estratégico: ampliar a compreensão do público sobre a atuação de instituições ligadas ao fomento rural, como a Emater-RO. Tornar visível o trabalho de extensão, pesquisa e apoio técnico ao produtor é legítimo, sobretudo quando isso se dá por meios acessíveis e gratuitos à população.

Ainda assim, é necessário refletir sobre o equilíbrio entre espetáculo e conteúdo. A atração tecnológica não pode se tornar um fim em si mesma. Se a experiência visual não estiver acompanhada de informações claras, contextualizadas e relevantes, corre-se o risco de transformar uma oportunidade de formação cidadã em mero entretenimento.

Outro aspecto que merece atenção diz respeito ao custo e à finalidade da ação. A aplicação de recursos em estruturas desse porte precisa ser justificada não apenas por seu apelo visual, mas por sua eficácia como ferramenta educativa e institucional. É fundamental que esse tipo de investimento tenha continuidade, seja monitorado e avaliado de forma criteriosa. Caso contrário, corre-se o risco de consolidar práticas pontuais, caras e de retorno limitado.

A comunicação pública moderna exige inovação, mas também responsabilidade. Projetos que apostam em tecnologias imersivas devem sempre estar orientados por critérios de relevância, eficiência e utilidade social. Quando bem planejados e bem executados, podem representar avanços importantes no modo como os serviços públicos dialogam com a sociedade. Quando utilizados apenas para deslumbrar, correm o risco de banalizar aquilo que pretendem valorizar.

É saudável que eventos como a Rondônia Rural Show testem novos formatos e experiências. Isso faz parte de um processo de amadurecimento institucional e de aproximação entre governo e população. Mas é preciso que cada inovação venha acompanhada de uma reflexão sobre seus efeitos reais, sobre sua permanência e sobre seu papel na construção de um serviço público mais transparente, acessível e útil à população.

Diário da Amazônia

PUBLICIDADE
Postagens mais lidas de
Últimas postagens de