Porto Velho (RO)07 de Junho de 202502:41:10
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Incidentes em hospitais mostram urgência de um cuidado mais ético

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Os dados mais recentes relacionados à segurança do paciente em instituições de saúde acendem um alerta que não pode ser ignorado. O levantamento da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) mostra que, somente em 2024, foram notificadas 426.148 ocorrências de eventos adversos em hospitais e clínicas brasileiras, das quais 2.458 resultaram em óbitos. Em Rondônia, 5.983 incidentes foram relatados, sendo que o tipo mais frequente, com 2.775 casos, foi a falha na identificação do paciente. Outras ocorrências preocupantes incluem lesões por pressão, que afetam especialmente pacientes acamados e fragilizados.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que eventos adversos em instituições de saúde causem, anualmente, cerca de 2,6 milhões de mortes, sobretudo em países de baixa e média renda. O impacto econômico também é expressivo. Erros de medicação, metade deles evitáveis, geram perdas de 42 bilhões de dólares por ano, enquanto o custo global dos cuidados inseguros ultrapassa 1,17 trilhão de dólares. No contexto local, cada número representa uma pessoa, uma família e uma rede de relações abalada por um sistema que ainda convive com falhas evitáveis.

É nesse cenário que a discussão sobre a humanização do atendimento ganha força. Organizações como a Sociedade Brasileira para a Qualidade do Cuidado e Segurança do Paciente (Sobrasp) defendem que o cuidado deve ultrapassar o domínio técnico e incorporar práticas que promovam empatia, escuta ativa e respeito à dignidade do paciente. O desafio consiste em equilibrar a precisão dos protocolos com uma abordagem que enxergue o paciente como indivíduo, portador de necessidades físicas e emocionais.

A experiência de Rondônia, com destaque para as falhas de identificação, reforça a necessidade de investir em processos padronizados, mas também em cultura organizacional. Muitas vezes, rotinas exaustivas e ambientes sobrecarregados contribuem para que etapas simples — como a conferência de nome e documentação — sejam negligenciadas. Por outro lado, iniciativas que promovem a participação do paciente e de seus familiares no cuidado demonstram impacto positivo na redução de incidentes.

A sanção da Lei nº 15.126, que insere a atenção humanizada como princípio fundamental do Sistema Único de Saúde (SUS), representa um avanço institucional importante. A legislação confere respaldo à Política Nacional de Humanização, em vigor desde 2003, e consolida um novo paradigma para o atendimento em saúde no país. A valorização da saúde centrada na pessoa deve ser um compromisso permanente, traduzido em práticas cotidianas, formação continuada e na gestão transparente dos serviços.

O enfrentamento dos eventos adversos depende de esforços articulados entre gestores, profissionais e usuários do sistema. Transparência na notificação, análise rigorosa dos incidentes e promoção de ambientes seguros são medidas imprescindíveis. Mas o caminho da humanização, agora respaldado por lei, surge como eixo central para transformar não apenas os indicadores, mas a própria experiência de quem busca cuidado.

Em Rondônia, a redução dos incidentes exige investimentos em treinamento, revisão de processos e, sobretudo, na construção de relações mais próximas e respeitosas entre equipes e pacientes. O desafio é grande, mas, ao reconhecer a complexidade do tema e agir com responsabilidade, é possível avançar para um sistema de saúde mais seguro, acolhedor e eficiente para todos.

Diário da Amazônia

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