O "Dia de Corpus Christi", que será celebrado na quinta-feira (19), é uma data de profunda relevância para milhões de pessoas, e convida todas à reflexão sobre o sentido da fé, do amor ao próximo e da paz entre os povos. É um dia de celebração e respeito, manifestado nas ruas, nos altares e nos corações de quem acredita no ensinamento maior: o amor universal. Entretanto, ao longo da história, o mundo assistiu a inúmeras guerras travadas em nome da religião, marcando profundamente a trajetória da humanidade com sangue, intolerância e sofrimento.
É paradoxal que religiões cujos textos sagrados exaltam a fraternidade e a compaixão sejam, não raramente, protagonistas de episódios de violência. Ocorre um distanciamento gritante entre o que se prega e o que se pratica. O amor ao próximo, a busca pela paz, o perdão e o acolhimento, tão bem definidos nos preceitos religiosos, são deixados de lado quando se impõe, pela força, uma fé sobre outra. Ao invés de aproximar o homem do sagrado, a intolerância religiosa o afasta do que há de mais elevado em sua crença.
É impossível ignorar que, especialmente no Ocidente, religiões se envolveram em guerras, perseguições, cruzadas e genocídios, sempre justificando a violência como um meio legítimo para defender ou expandir determinadas doutrinas. E, neste processo, quem mais sofre são os inocentes, pessoas que não têm interesse em conflitos, mas que acabam sendo vítimas de uma intolerância cega e cruel. São os povos, as famílias, os indefesos, aqueles que desejam apenas viver em paz, que acabam pagando o preço mais alto da insensatez humana.
Chama a atenção o contraste histórico com religiões orientais, que, embora diversas em suas doutrinas, nunca promoveram guerras para impor suas ideias a outros povos. Se há conflitos, eles não têm origem na imposição doutrinária, mas em fatores políticos, territoriais ou culturais. Esse dado histórico reforça que a violência religiosa não é uma fatalidade, mas uma escolha, um desvio do propósito maior das religiões: conduzir o ser humano ao encontro da paz interior e da harmonia com o outro.
A intolerância religiosa é fruto da vaidade, do desejo de dominação e da incapacidade de respeitar a diversidade. Quando alguém, em nome de Deus, destila ódio e aniquila o semelhante, afasta-se irremediavelmente da essência divina, perde-se do caminho do bem e faz da religião instrumento de destruição e não de salvação. O verdadeiro compromisso espiritual é com o acolhimento, o diálogo, a convivência pacífica.
Neste Corpus Christi, a reflexão que se impõe é sobre a responsabilidade de cada um diante do outro, sobre a necessidade de superar preconceitos e viver o ensinamento maior das religiões: o amor, que jamais pode ser imposto pela força, mas apenas ofertado em liberdade. Só assim, o que se celebra no altar será verdade também nas ruas e nos corações de todos.
Diário da Amazônia