Porto Velho (RO)25 de Abril de 202518:13:16
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Morte do Papa Francisco escancara miséria moral de militância política travestida de fé

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A morte de um Papa, figura máxima da Igreja Católica, representa para milhões de fiéis um momento de luto, reflexão e comunhão espiritual. Independentemente da concordância com suas posturas teológicas ou sociais, o falecimento de um líder religioso com alcance global exige, minimamente, respeito. No entanto, a reação de parte do público a uma simples manifestação de pesar pela morte do Papa Francisco — feita pelo senador Marcos Rogério (PL-RO) — revela o grau preocupante de degradação moral e radicalização ideológica de certos segmentos da sociedade.

O episódio em questão não diz respeito apenas a um senador. É reflexo de um fenômeno mais amplo: a substituição da fé pelo fanatismo político, da compaixão pelo ódio, da espiritualidade pela militância agressiva. Em nome de uma suposta defesa de valores cristãos, muitos têm se permitido manifestações incompatíveis com o próprio evangelho que dizem seguir. A intolerância demonstrada nas redes, diante de uma nota que exaltava valores como justiça, fé e fraternidade, mostra que a cruz foi trocada por bandeiras de facção.

A demonização de qualquer voz ou figura que não se alinhe ao extremo ideológico do momento tem feito vítimas dentro do próprio campo conservador. Expressar condolências virou ato subversivo. Louvar virtudes virou sinal de fraqueza. O que deveria ser um gesto simples de humanidade foi tomado como provocação. E o mais grave: essa reação é manifestada por indivíduos que se identificam como cristãos.

É paradoxal. Pois o cerne do cristianismo — o amor ao próximo, a misericórdia, o perdão — é incompatível com o rancor que se expressa em comentários ofensivos a um morto como: "já vai tarde, menos um comunista na Terra". Jesus em seus evangelhos ensinou: "Amai os vossos inimigos" (Mateus 5:44). Mas há quem prefira odiar até quem defendeu a paz. A Carta aos Romanos (12:18) diz: "Tende paz com todos os homens". Mas muitos parecem só desejar guerra.

A radicalização política desfigura tudo o que toca. Transforma adversários em inimigos, humanidade em fraqueza, empatia em traição. E isso cobra seu preço. O senador, ao emitir uma nota moderada, talvez tenha buscado reafirmar princípios universais. No entanto, tornou-se alvo da própria base que cultivou. O que antes era aliado virou herege. O que antes era aplauso virou julgamento.

Neste cenário, a morte do Papa Francisco foi apenas o estopim. O real problema é o ambiente de idolatria política que não admite nuances, nem mesmo em momentos de luto. É o preço de alimentar uma militância que, em nome da fé, age sem nenhuma caridade. A impressão que se tem, é que civilidade perdeu espaço para a intolerância. A compaixão virou moeda desvalorizada. E a morte de um Papa, em vez de unir, expôs a desunião. Em vez de elevar o espírito, revelou o abismo.






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