Ricardo Stuckert/PR
Pesquisa Genial/Quaest, divulgada nesta terça-feira (16/12) mostra a avaliação de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se saiu melhor do que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) — e seus aliados —, no embate envolvendo o tarifaço imposto pelos Estados Unidos aos produtos brasileiros chegou a 54% em dezembro de 2025.
Segundo o levantamento, 24% dos entrevistados consideram que Bolsonaro e seus aliados tiveram melhor desempenho no episódio, enquanto 10% afirmam que nenhum dos lados se saiu melhor. Outros 12% não souberam ou não responderam.
O resultado representa um crescimento significativo ao longo do ano. Em julho, 44% atribuíam vantagem a Lula e ao PT. O índice subiu para 48% em agosto, caiu para 40% em setembro e avançou para o atual patamar de 54% em dezembro, o maior da série. No mesmo período, a percepção positiva em relação a Bolsonaro caiu de 29% para 24%.
Papel de Lula
A pesquisa também mediu a percepção sobre a importância da atuação direta de Lula para reverter o conflito comercial com os EUA. Para 43%, o posicionamento e a postura do presidente foram muito importantes para melhorar o cenário. Outros 28% avaliam que foram importantes, mas nem tanto. Já 23% consideram que a atuação de Lula não foi importante, enquanto 6% não souberam ou não responderam.
O levantamento indica que, para a maioria dos brasileiros, o governo teve papel relevante na condução da crise, mesmo sem recorrer a medidas de retaliação direta contra os Estados Unidos.
Escalada do tarifaço
O tarifaço imposto pelo governo de Donald Trump sobre produtos brasileiros entrou oficialmente em vigor em 6 de agosto de 2025, após uma escalada iniciada ainda em fevereiro.
Naquele mês, os EUA aplicaram uma tarifa de 25% sobre ferro e aço brasileiros. Em abril, foi anunciada uma tarifa recíproca de 10%, seguida, em maio, pela elevação para 50% sobre o mesmo setor.
Em agosto, a sobretaxa foi ampliada para outros produtos, elevando a alíquota de importação para 50% sobre itens não incluídos em uma lista de isenções que abrangeu 694 produtos. Trump justificou as medidas para proteger a indústria norte-americana e reagir a políticas brasileiras consideradas "desfavoráveis".
O conflito ganhou contornos políticos e diplomáticos com a suspensão de vistos de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e a aplicação de sanções com base na Lei Magnitsky contra o ministro Alexandre de Moraes, ampliando a pressão sobre o governo brasileiro.
Impactos e negociação
Os efeitos do tarifaço foram sentidos principalmente nos setores de agronegócio, indústria de metais, café, frutas e calçados, o que levou o Palácio do Planalto a intensificar o diálogo diplomático e anunciar medidas de apoio aos setores afetados.
Em novembro, Trump assinou uma ordem executiva que flexibilizou parte das tarifas sobre produtos agrícolas brasileiros. Com a decisão, foram zeradas tarifas de 40% sobre carne bovina fresca, resfriada ou congelada, produtos de cacau e café, frutas, vegetais, nozes e fertilizantes.
À época, o vice-presidente Geraldo Alckmin afirmou que "o próximo passo é diminuir as taxas que atingem o setor industrial". Já o chanceler Mauro Vieira confirmou que o Brasil apresentou aos EUA uma "proposta geral" sobre o tarifaço e aguarda uma resposta para avançar em acordos mais amplos. "Temos que esperar que eles reajam", disse.
Segundo o Planalto, a Casa Branca avaliou haver "progresso inicial" nas negociações, que começaram após uma ligação entre Lula e Trump em outubro e abriram caminho para a revisão parcial das medidas punitivas.
A pesquisa entrevistou mais de 2 mil pessoas, com uma margem de erro estimada em 2 pontos percentuais e nível de confiança de 95%. A coleta foi realizada entre os dias 11 e 14 de dezembro.
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