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A cotação do dólar americano chegou a um novo recorde histórico nesta quarta-feira (18/12). A moeda fechou o dia valendo R$ 6,26, o que representa uma alta de 1,55% em relação à abertura. A subida descontrolada preocupa o governo federal, que tentou, sem sucesso, conter a elevação.
A subida da moeda acontece em cenário de muitas variáveis. Internamente, o governo federal trava uma dura batalha no Congresso para aprovar o pacote fiscal de contenção de gastos. Já no âmbito externo, há preocupação sobre a política a ser implementada pelo presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, entre outros fatores.
O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, afirmou nesta quarta que o governo tem esperança de concluir a votação do pacote fiscal ainda neste ano. As medidas de contenção de despesas são vistas pelo mercado como essenciais para conter a inflação e dar previsibilidade na economia.
"Estamos aqui redobrando a confiança de que Câmara e Senado, Congresso Nacional, estão fazendo tudo e farão absolutamente tudo nesse esforço concentrado para concluir a votação desses três instrumentos que ajudam a consolidar o marco fiscal", disse Padilha.
Se, por um lado, a aprovação do pacote para economizar R$ 70,5 bilhões nos próximos dois anos é incerta, o empenho do governo federal já foi suficiente para garantir o avanço na questão tributária, com o deferimento da regulamentação da matéria. Embora seja um ponto importante para o setor produtivo, isso não debelou os ânimos acirrados em torno da moeda estrangeira.
"Patamar natural"
O vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, afirmou nesta quarta que a cotação do dólar deve recuar com a possível aprovação do pacote fiscal do governo federal.
"Eu acredito que, com a aprovação do conjunto de medidas do governo para redução de despesa e cumprimento do arcabouço fiscal, medidas imediatas de curto e médio prazo, isso (preço do dólar) tende a voltar ao patamar natural", avaliou.
O economista Bruno Fleury atribui a alta do dólar, principalmente, ao "descrédito" do mercado em relação ao pacote de redução de gastos que o governo enviou ao congresso.
"A montanha pariu um rato. Havia muita expectativa e no fim vimos que a economia será pouca em relação ao tamanho do déficit. Os gastos do governo geram inflação. Por isso, o Banco Central teve de aumentar a Selic em 1 ponto percentual", avalia o especialista ao Metrópoles. A taxa Selic fecha o ano com 12,25% ao ano e previsão de elevação no início de 2025.
Ação coordenada
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad afirmou não descartar um possível ataque especulativo em relação ao dólar. A atuação estaria se aproveitando das incertezas sobre a aprovação das medidas fiscais e também do ambiente externo.
"Pode estar havendo (ataques especulativos no dólar). Não estou querendo aqui fazer juízo sobre isso, porque a Fazenda trabalha com os fundamentos. E esses movimentos mais especulativos são coibidos com a intervenção do Tesouro e Banco Central. Então, funciona assim", acrescentou ao falar à imprensa nesta quarta.
O Banco Central (BC) anunciou para esta quinta-feira (18/12) a realização de um leilão de US$ 3 bilhões. Da última quinta-feira (12/12) até a última terça-feira (17/12), o BC injetou no mercado US$ 12,8 bilhões. As ações, no entanto, foram insuficientes para barrar a alta.
Fleury considera que a crise de descrédito em relação aos resultados de corte de gastos do governo supera o impacto das ações do BC. "A desconfiança é tal que o Banco Central pode continuar despejando dólar que não vai mudar o humor do mercado. Quem sabe, depois que os pacotes forem aprovados no Congresso, o mercado se acalme um pouco. Mas a perspectiva não é boa", finaliza.
Metrópoles