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Manaus se destaca como a cidade brasileira com a maior população indígena, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 2022, a capital do Amazonas registrou 71,7 mil habitantes que se identificam como indígenas, superando municípios tradicionalmente reconhecidos pela forte presença dos povos originários, como São Gabriel da Cachoeira e Tabatinga.
O crescimento dessa população na capital reflete um fenômeno social marcado pelo deslocamento forçado de famílias indígenas em busca de melhores condições de vida. Para muitos, Manaus representa um novo lar, onde precisam reafirmar suas identidades em meio a desafios históricos e contemporâneos, de acordo com relatos da população originária como o de Izabel Cristine, da etnia Munduruku.
A coordenadora do Movimento dos Estudantes Indígenas do Amazonas (Meiam) e doutoranda em história pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), destaca a influência indígena na formação cultural da cidade. "A identidade manauara carrega traços profundos dos povos originários, seja na alimentação, nos costumes ou na relação com a natureza, mesmo que isso nem sempre seja reconhecido", afirma.
Apesar da forte presença indígena, o reconhecimento dessa herança histórica enfrenta resistência. A capital abriga vestígios arqueológicos significativos, como urnas funerárias e petróglifos encontrados na Ponta das Lajes, além de antigos cemitérios indígenas espalhados pela cidade. "Manaus sempre foi e continua sendo um território indígena", reforça Izabel.
Os desafios enfrentados pelos indígenas no Brasil seguem evidentes. Relatório divulgado pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi) apontou 411 casos de violência contra povos indígenas em 2023, incluindo 208 assassinatos e 35 tentativas de homicídio. A disputa territorial segue como um dos principais fatores de risco, intensificada por invasões ilegais, conflitos armados e políticas que fragilizam os direitos indígenas.
A aprovação do Marco Temporal, ainda que declarada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, simboliza os embates sobre a demarcação de terras indígenas e reforça a luta dos povos originários pela garantia de seus territórios e modos de vida.
Diante desse cenário, a população indígena de Manaus resiste, reafirma sua identidade e continua a desempenhar um papel essencial na formação e transformação da cidade, mantendo vivas suas raízes e tradições, como destaca Cristine.
Carol Veras - Portal SGC