AFP
A Ucrânia foi alvo de novos ataques aéreos nesse domingo (25), que deixaram ao menos 13 mortos, incluindo três crianças, e feriram dezenas de pessoas. Segundo o Exército ucraniano, a Rússia lançou 298 drones e dezenas de mísseis durante a madrugada, configurando o maior bombardeio com drones desde o início da invasão, há mais de três anos. O ataque atingiu 12 regiões do país, com relatos de destruição em áreas residenciais e pânico entre a população.
A Força Aérea da Ucrânia afirmou ter interceptado 266 drones e 45 mísseis. Mesmo assim, os danos se espalharam por cidades como Kiev, Mykolaiv, Khmelnytskyi e Zhytomyr. Em resposta, drones ucranianos também foram lançados contra Moscou, levando ao fechamento temporário de quatro aeroportos da capital russa, incluindo o Sheremetyevo, principal terminal aéreo do país. As operações foram retomadas ao longo da manhã.
A nova onda de ataques ocorreu poucas horas antes da conclusão da maior troca de prisioneiros entre os dois países desde o início do conflito. Apesar da escalada da violência, Rússia e Ucrânia concluíram neste domingo a última etapa do acordo fechado em Istambul, que previa a liberação de mil prisioneiros de cada lado. O Ministério da Defesa da Rússia confirmou que 303 soldados russos foram trocados por 303 militares ucranianos. As libertações anteriores ocorreram na sexta-feira (270 soldados e 120 civis de cada lado) e no sábado (307 prisioneiros de cada lado).
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, reagiu aos bombardeios com críticas contundentes à comunidade internacional. Ele pediu ações concretas contra as "fragilidades da economia russa" e apelou aos Estados Unidos, à União Europeia e aos países aliados para que exerçam mais pressão sobre Moscou. "Sem uma pressão realmente forte sobre as autoridades russas, a brutalidade não pode ser detida. As sanções certamente ajudarão", disse Zelensky. Ele acrescentou que o presidente russo, Vladimir Putin, precisa ser forçado a "terminar a guerra".
O apelo encontrou eco na diplomacia europeia. A chefe da diplomacia da União Europeia, Kaja Kallas, afirmou que os ataques evidenciam a intenção de Moscou de ampliar o sofrimento na Ucrânia. "É horrível ver crianças entre as vítimas inocentes feridas e assassinadas. Os ataques da noite passada mostram mais uma vez que a Rússia está decidida a aniquilar a Ucrânia", declarou em publicação na rede X.
O governo alemão também condenou a ofensiva. "Devemos estar determinados. Não podemos aceitar isso", disse o ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Johann Wadephul, em entrevista à emissora ARD. Ele também afirmou que os ataques são uma afronta até mesmo "contra o presidente americano, Donald Trump, que tanto tem feito para levar Putin à mesa de negociações".
"Terror absoluto"
A dimensão da tragédia foi evidenciada pelos relatos das vítimas. Em Kiev, os serviços de emergência descreveram a noite como um "terror absoluto". Quatro pessoas morreram e outras 16 ficaram feridas na região da capital, entre elas três crianças. Na localidade de Markhalivka, ao sudoeste de Kiev, casas foram destruídas por explosões. "Vimos que toda a rua estava em chamas", contou à France-Presse a aposentada Tetiana Yankovska, 65 anos, que sobreviveu ao ataque. "O pior é que havia destroços no travesseiro da cama onde uma criança deveria dormir", acrescentou. Tetiana já havia fugido da cidade de Avdiivka, atualmente sob controle russo, no leste da Ucrânia.
Outro morador da região, Oleksander, 64 anos, também escapou dos bombardeios. "Não precisamos de negociações, e sim de armas, muitas armas, para contê-los. A Rússia só entende a força, nada mais", declarou.
Na região de Mykolaiv, no sul do país, um homem foi encontrado morto após ataque com drone. Em Khmelnytskyi, no oeste, quatro pessoas morreram e cinco ficaram feridas. Três menores de idade — de 8, 12 e 17 anos — perderam a vida em bombardeio na região de Zhytomyr, ao noroeste. Segundo Zelensky, os "ataques deliberados contra cidades comuns" visaram 12 regiões.
Em Moscou, o prefeito Sergey Sobyanin confirmou que mais de 10 drones ucranianos chegaram à capital russa, sem deixar vítimas. A aviação civil impôs restrições temporárias aos aeroportos, mas os voos foram retomados poucas horas depois.
Apesar do agravamento da situação, a troca de prisioneiros e de corpos de militares mortos em combate continua sendo um dos poucos canais de cooperação entre os dois países. O chanceler russo, Sergey Lavrov, afirmou na sexta-feira que Moscou está finalizando um documento com "as condições de um acordo duradouro, global e de longo prazo" para encerrar o conflito. O texto seria enviado a Kiev após o encerramento da troca de prisioneiros.
O conflito, iniciado em fevereiro de 2022, já provocou dezenas de milhares de mortes e o deslocamento de milhões de pessoas. A Rússia ocupa atualmente quase 20% do território ucraniano.
Correio Braziliense