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A Polícia Civil do Rio de Janeiro (PCRJ) apreendeu dois adolescentes acusados de planejar um atentado com explosivo a uma escola no bairro de Bangu, Zona Oeste da capital fluminense. A ação, segundo os investigadores, foi interrompida graças ao trabalho de agentes infiltrados, que descobriram a iminência do ataque e, no último sábado, interceptaram os envolvidos antes da execução.
Os suspeitos faziam parte de grupos extremistas que planejavam transmitir a explosão ao vivo pela internet.
O Correio apurou detalhes sobre as investigações que apontam que os jovens integravam um servidor do Discord identificado como "466", já monitorado por forças de segurança por abrigarem discursos de ódio, incitação à violência e conteúdos extremos. Segundo os dois jovens, moradores de Bangu, o artefato que seria utilizado na ação teria grande capacidade destrutiva. Tentamos contato com a Polícia Civil do Rio de Janeiro para confirmar que o artefato foi desativado pelo Esquadrão antibomba, mas não obtivemos retorno.
A delegada Lisandréa Salvariego Colabuono, chefe do Núcleo de Operações e Articulações Digitais (Noad) da Polícia Civil de São Paulo, que investiga os passos desses grupos por todo o país, afirmou que os adolescentes demonstraram frustração com os avanços das investigações que vêm desmantelando redes digitais voltadas à radicalização juvenil. "Eles estavam revoltados com as prisões recentes de líderes desses grupos que disseminam ódio, incentivam outros jovens a se automutilarem e pretendiam agir como forma de retaliação. Eles precisam saber que não são somente eles que estão on-line. Nós também estamos", destacou a delegada.
O Noad investiga sem interagir, apenas coletando informações e a partir dos relatórios produzidos pelos agentes de inteligência infiltrados nesses grupos, a Polícia Civil compartilha as informações com demais órgãos. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP), desde a criação, em 2024, as equipes do núcleo conseguiram impedir mais de 80 estupros virtuais, uma prática criminosa que se espalha pela rede mundial de computadores.
Lisandréa alerta que os adolescentes vêm dando sinais claros antes de mergulharem nessas redes e que também é papel dos pais perceber e acompanhar as mudanças no comportamento dos filhos, fora, e, principalmente, dentro de casa. "É preciso atenção dos pais ao uso excessivo de telas, isolamento social e à perda de vínculos reais. Crianças e adolescentes não podem ter privacidade absoluta no ambiente digital. Monitoramento, diálogo e limites são fundamentais."
Segundo a delegada, a articulação de atentados em ambientes como Discord e Telegram tem sido cada vez mais comum e a baixa colaboração dessas plataformas representa um entrave sério às investigações. "Um dos nossos maiores problemas é a falta de colaboração por parte de algumas plataformas. Por exemplo, o Telegram e o Discord não são colaborativos, o que dificulta nosso trabalho", comentou.
Ela ressaltou ainda que esses episódios renovam a urgência da discussão sobre a responsabilidade das plataformas digitais e os limites da liberdade de expressão. "Enquanto o STF não decidir, ficamos engessados. A legislação atual não acompanha a velocidade dos crimes cometidos online". Amanhã, em sessão plenária extraordinária marcada para às 10h, o Supremo Tribunal Federal (STF) retoma com o julgamento sobre a constitucionalidade do artigo 19 do Marco Civil da Internet, que hoje exige ordem judicial prévia para responsabilizar provedores por conteúdos ilícitos.
Correio Braziliense