Porto Velho (RO)07 de Setembro de 202508:48:38
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Rondônia

"Racismo: Herança e Luta" Cultura Afro-Brasileira: Tambores, terreiros e música como pilares de resistência

Na segunda reportagem da série especial, veja como a religiosidade de matriz africana e as expressões musicais combatem o preconceito


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Portal SGC

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Em um estado historicamente formado por migrações, a herança africana se mantém como uma força viva e resistente em Rondônia. Longe dos holofotes oficiais, a cultura emerge como um pilar fundamental para a construção da identidade e o combate ao racismo, preservando saberes ancestrais através da música, da dança e da fé.

A reportagem mostra que a resistência cultural muitas vezes precisou ser estratégica. Em um terreiro na zona sul de Porto Velho, o Babalorixá Ronaldo Santeiro T’Aganju preserva tradições que atravessaram o oceano. Ele relembra que o sincretismo religioso, no passado, foi uma ferramenta crucial para diminuir o preconceito e permitir a sobrevivência das religiões de matriz africana frente às perseguições.

Para combater a desinformação que ainda persiste, os terreiros encontraram um aliado moderno: as redes sociais. Babalorixás e filhos de santo utilizam plataformas como TikTok e Instagram para quebrar estereótipos, mostrando o dia a dia real de suas comunidades, repleto de alegria, acolhimento e música. Essa exposição direta desmistifica a religiosidade e alcança um público que, por medo, nunca pisaria em um terreiro.

A mesma resistência que acontece nos terreiros ecoa na música. O músico e produtor Samuel Pessoa, da banda Quilomboclada, explica que Rondônia, apesar de ser um estado de muitas migrações, possui redutos culturais fortíssimos. A banda, que surgiu em 2002, é uma manifestação sonora da identidade beradeira - o orgulho de ser ribeirinho -, unindo rock e rap a batuques e cantigas regionais em um manifesto ativista.

Samuel Pessoa destacou a falta de espaços oficiais em Rondônia para a música negra, mas apontou a resistência em locais históricos como o Bar do Calixto, patrimônio de Porto Velho. O local, que funciona onde antes existia o Terreiro de Santa Bárbara, é mais que um point: é onde gerações se unem pelo samba, mantendo viva a herança africana na batida dos tambores.

Fica claro que a cultura é o terreno mais fértil para a luta antirracista. É na batida do tambor, no giro da capoeira e na força dos terreiros que Rondônia constrói, todos os dias, uma identidade mais plural e consciente de suas raízes africanas. A herança de luta, através da música, da dança e da fé, insiste em seguir viva, ecoando o passado para construir um futuro com mais orgulho e menos preconceito.

A série "Racismo, Herança e Luta" continua no próximo capítulo, que mergulhará no universo da capoeira como expressão de resistência, educação e orgulho negro em Rondônia.


Natália Figueiredo - Portal SGC


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