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A retomada parcial da capacidade operacional das usinas hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio marca um momento de alívio para o setor energético nacional, após um período crítico que expôs a vulnerabilidade de nossa matriz energética às mudanças climáticas. A recuperação gradual do nível do Rio Madeira, embora ainda abaixo da média histórica, representa mais que uma simples estatística — é um indicador da resiliência e da importância estratégica de Rondônia para o Brasil. Em outubro, quando o rio atingiu o histórico e alarmante nível de 19 centímetros, o menor desde o início das medições em 1967, ficou evidente a necessidade de repensarmos nossa relação com os recursos hídricos e nossa dependência de um modelo energético centralizado. A atual marca de 5,50 metros, ainda que inferior à média de 6,16 metros para o período, sinaliza uma recuperação que traz esperança, mas também alertas importantes.
O Rio Madeira, com seus impressionantes 3 mil km² de extensão, não é apenas um curso d’água — é uma artéria vital para o Sistema Interligado Nacional de energia elétrica. A retomada de pelo menos metade das unidades geradoras em ambas as usinas demonstra a capacidade de adaptação de nossa infraestrutura energética, mas também expõe a urgência de diversificarmos nossa matriz energética. Este episódio crítico deve servir como catalisador para um debate mais amplo sobre sustentabilidade e planejamento estratégico. A recuperação parcial do rio nos permite respirar momentaneamente aliviados, mas não podemos ignorar os sinais que a natureza nos envia. O momento exige uma reflexão profunda sobre nossos modelos de desenvolvimento e consumo energético.
A experiência recente nos mostra que, mesmo com toda a tecnologia e engenharia disponíveis, ainda somos profundamente dependentes dos ciclos naturais. Esta lição deve orientar futuras políticas públicas e investimentos em infraestrutura, considerando não apenas a eficiência energética, mas também a resiliência ambiental. O momento atual representa uma oportunidade única para Rondônia liderar discussões nacionais sobre adaptação às mudanças climáticas e gestão sustentável de recursos hídricos. Nossa experiência pode e deve servir como referência para outras regiões que enfrentam desafios similares.
A atual conjuntura nos convoca a uma reflexão mais ampla sobre inovação e desenvolvimento sustentável. Enquanto celebramos a retomada parcial da geração de energia, é imperativo que governos, sociedade civil e setor privado unam esforços para implementar tecnologias complementares, como a solar e a eólica, além de investir em programas de conservação das bacias hidrográficas. Somente com uma abordagem multifacetada e preventiva poderemos garantir não apenas a segurança energética, mas também a preservação desse patrimônio natural para as futuras gerações.
Diário da Amazônia