Fernando Frazão/Agência Brasil
Há cerca de um mês para o Dia das Crianças, a alta da inflação preocupa setor de brinquedos, dizem especialistas no setor de varejo.
De acordo com o especialista em varejo da Strong Business School e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Ulysses Reis, o aumento da inflação cria a diminuição do poder de consumo e pode fazer com que alguns pais ou responsáveis "segurem a mão" na hora de comprar presentes para celebrar a data.
"Como é um dia que implica muito na vida das crianças, a maioria dos pais vai comprar presentes, só que bem mais baratos", avaliou ele.
Segundo o professor, muitos fatores vão influenciar negativamente o varejo na semana da criança, sendo o primeiro, a inflação, seguido pela taxa de juros e aumento do desemprego. Ele explicou que, na sua visão, no cenário atual, em que as perspectivas econômicas não são boas, tanto os vendedores quanto compradores se retraem.
"Então provavelmente a gente vai ter menos oferta de brinquedos e também os pais não vão querer entrar em compras a longo prazo vão evitar cartão de crédito, evitar compras caras", disse.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), as vendas no comércio varejista registaram queda pelo quarto mês consecutivo, com diminuição de 0,3% em julho em comparação com o mês anterior.
Ainda segundo o IBGE, na divulgação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do país, o item "despesas pessoais", no qual brinquedos estão incluídos, teve alta de 0,40% no mês de agosto.
No ano, o IPCA acumula alta de 3,15% e, nos últimos 12 meses, o índice ficou em 5,13%, acima do teto da meta, que é de 3%, com um intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.
No entanto, segundo a PMC, a categoria "outros artigos de uso pessoal e doméstico", que contempla brinquedos e outros itens, cresceu 1,5% frente ao mesmo período do ano passado. O que pode ser um sinalizador de aceleração econômica do setor.
O que é IPCA
Para o presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedo (Abrinq), Synésio Costa, a inflação sempre pode impactar nas vendas, "mas o brinquedo é muito importante na família". Na avaliação dele, as crianças não ficarão sem brinquedos, mesmo as mais carentes. " nem que seja por programas sociais das prefeituras ou de alguma entidade", disse.
De acordo com Costa, a expectativa é que a semana da criança represente cerca de 35% das vendas do ano no setor, que tem projeções de crescimento de 3,5% a 5% em 2025, fechando o ano próximo a R$ 12 bilhões em faturamento.
O professor da FGV, no entanto, alerta que o setor pode ser afetado pela migração de consumo, quando existe uma mudança no comportamento de compra.
"Se os pais tinham dinheiro, por exemplo, para dar um smartphone, provavelmente não vão dar, ou se aqueles que vão poder dar, não vão dar um iPhone, vão dar um smartphone bem mais modesto. Em outros casos, não vão dar smartphones, computadores ou coisas mais caras, vão tentar dar brinquedos mais baratos. Provavelmente esses brinquedos, se eram comprados em lojas de brinquedos, agora vão ser comprados, por exemplo, em outros tipos de varejo mais barato", explicou.
Lojas físicas e comércio digital
No primeiro trimestre de 2025 o e-commerce brasileiro ultrapassou R$ 1 bilhão de faturamento entre pequenas e médias empresas, segundo o Sebrae. A expectativa da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm) é que, em 2025, o faturamento seja de R$ 234,9 bilhões contra R$ 204,3 bilhões em 2024, um crescimento de cerca de 10% na comparação.
Apesar da crescente de consumo online, Reis afirmou que a taxação das importações, a chamada "taxa das blusinhas", encareceu o preço do produto final para o consumidor, que pode preferir comprar em sites brasileiros ao invés de fazer compras internacionais. No entanto, ele afirmou que alguns pais podem preferir as lojas físicas, a depender da idade da criança.
"Muitos produtos que são vendidos para crianças abaixo de seis anos de idade, são produtos que são perigosos para a saúde. A criança pode acabar engolindo o produto, pode acabar se machucando. Quando a loja é física, os pais têm mais capacidade de interagir com esses produtos, ver como eles realmente são", disse.
De acordo com Reis, outro fator que pode influenciar a compra de presentes através do lojas físicas ou de sites são as mudanças nas tendências de consumo. Ele afirma que para o dia das crianças não são comprados somente brinquedos, podem ser comprados smartphones, demais produtos digitais, roupas e maquiagens.
"As lojas especializadas, ou mais especializadas em brinquedos, estão tendendo até a desaparecer. Antes a gente tinha grandes marcas, hoje em dia boa parte desses produtos são vendidos online ou através de lojas de departamentos", avaliou o professor.
Termômetro para o Natal
Reis explicou que os especialistas têm o Dia das Crianças como um "balizador" de vendas para o Natal. "Caso o dia das crianças seja muito bom, os próprios varejistas e intermediários aumentam as suas compras para natal junto aos fornecedores. Quer dizer que vai ter mais oferta e de artigos melhores. Quando o dia da criança não é excelente, o que o mercado faz? Compra menos e concentra as suas compras em produtos mais baratos", disse.
De acordo com ele, a chegada da Black Friday no Brasil também influenciou a forma de consumo e serve como um termômetro para as celebrações do mês de Dezembro. Reis afirmou que as pessoas definem os presentes de final de ano com antecedência e compram em novembro, na Black Friday, para pagar mais barato, o que faz que as compras de natal tenham um perfil diferente.
No caso do setor de brinquedos, segundo Synésio Costa, da Abrinq, o natal representa 30% das vendas, resultado menor do que o dia das crianças, e ajuda a fechar os números de faturamento do ano.
Metrópoles