Porto Velho (RO)30 de Maio de 202504:56:46
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Diário da Amazônia

Entre tradição e inovação surge um novo jeito de comer peixe

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Foto: Reprodução

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Inovação, tradição e compromisso social convergem em um exemplo de empreendedorismo que emerge das margens dos rios amazônicos e chega às escolas e feiras internacionais. A criação de linguiça de peixe, feita a partir de pirarucu e tambaqui, representa mais do que uma alternativa alimentar: é um caso emblemático de como a cultura regional pode ser reinventada e potencializada para enfrentar desafios contemporâneos, como o desperdício de alimentos, a segurança alimentar e a valorização de produtos locais.

O desenvolvimento do produto nasceu da observação atenta da realidade escolar, onde o peixe é presença constante na merenda, mas muitas vezes encontra resistência entre os estudantes. Consciente da dificuldade de introduzir o pescado na alimentação infantil, a empreendedora apostou na criatividade para transformar filés com espinhas, normalmente rejeitados, em embutidos saborosos, nutritivos e acessíveis. O resultado é uma linha de cinco variedades de linguiça de peixe, que já conquista paladares e abre portas para outras receitas inovadoras com pescado.

O caminho até aqui não foi isento de obstáculos. O processo de criação demandou quase três anos, entre testes de sabor, adequação de receitas, rotulagem e legalização do produto, enfrentando a conhecida burocracia que muitas vezes desencoraja pequenos produtores. A dedicação, entretanto, rendeu frutos: a produção já alcança até 500 quilos mensais, com perspectivas de expansão para mercados maiores. Trata-se de um avanço não apenas para o negócio, mas para toda uma cadeia produtiva e para a economia regional, que ganha visibilidade e valor agregado.

É preciso, contudo, ponderar. Iniciativas como essa, ainda que promissoras, enfrentam desafios estruturais. Para que produtos inovadores cheguem de fato às escolas públicas, é necessário superar entraves logísticos, garantir a regularidade do fornecimento, manter padrões rigorosos de qualidade e assegurar que o valor nutricional seja preservado em larga escala. Além disso, políticas públicas devem ser sensíveis e flexíveis, facilitando a entrada de novos alimentos na merenda escolar sem abrir mão de critérios técnicos.

Outro aspecto relevante é a necessidade de educação alimentar. Por mais criativa que seja a apresentação dos pratos, a aceitação do peixe ainda depende de um trabalho constante de sensibilização e informação junto às crianças e suas famílias. O envolvimento de nutricionistas e a preocupação com a saúde dos estudantes são pontos positivos que devem ser destacados e replicados em outras experiências.

Por fim, é fundamental reconhecer o potencial transformador desse tipo de empreendedorismo. Ao agregar valor a um produto regional, aproveitando integralmente a matéria-prima e promovendo inclusão social, a iniciativa contribui para a sustentabilidade econômica, ambiental e social da Amazônia. Inovar, nesse contexto, é também resistir ao comodismo e buscar soluções que respeitem a cultura local e ampliem horizontes para novas gerações.

Seja na merenda escolar ou nas prateleiras dos supermercados, a linguiça de peixe é símbolo de que tradição e inovação podem, sim, caminhar juntas em favor de uma alimentação mais saudável, justa e sustentável para todos.









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