Porto Velho (RO)30 de Julho de 202523:50:31
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Diário da Amazônia

Cidades rondonienses ocupam o topo de um mapa que deveria envergonhar

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Os dados mais recentes do Anuário Brasileiro de Segurança Pública lançam luz sobre uma realidade preocupante e inadiável: a escalada da violência sexual em Rondônia. O estado, que abriga pouco mais de 1,8 milhão de habitantes, figura entre os piores do país quando o assunto é estupro e estupro de vulnerável, tanto em números absolutos quanto proporcionais. A taxa estadual de 99,5 casos por 100 mil habitantes em 2024 — mais do que o dobro da média nacional de 41,2 — não pode ser relativizada, subestimada ou naturalizada.

Ainda mais alarmante é o fato de três municípios rondonienses estarem entre os cinco primeiros no ranking nacional de estupros proporcionais à população: Ariquemes, Vilhena e Porto Velho. Ji-Paraná também aparece na lista, ainda que em uma posição mais abaixo. A concentração desses casos em áreas urbanas de médio e grande porte indica que o fenômeno está longe de ser aleatório. Ele se enraíza em fatores estruturais como a ausência de políticas públicas eficazes, a fragilidade dos serviços de proteção e apoio às vítimas e o avanço de dinâmicas sociais que normalizam ou silenciam a violência de gênero.

Embora a divulgação dos dados represente um passo importante para a transparência e para a construção de soluções, é preciso que o debate vá além das estatísticas. Os números falam, mas não gritam. Cabe à sociedade, aos gestores públicos e às instituições locais transformarem esses dados em ações. Não basta reconhecer que há um problema: é necessário enfrentá-lo com seriedade, responsabilidade e coordenação entre diferentes áreas — saúde, educação, justiça e assistência social.

A realidade de Rondônia também precisa ser compreendida em seu contexto. Trata-se de um estado ainda marcado por processos de urbanização acelerada, disputas fundiárias e fragilidade institucional. Essas características favorecem a impunidade e a invisibilidade de crimes cometidos contra os mais vulneráveis — em especial, mulheres, adolescentes e crianças. Por isso, mais do que reforçar a repressão, é necessário investir na prevenção e na cultura do cuidado, com foco na redução da desigualdade e no fortalecimento da rede de proteção.

A mudança não será imediata, mas é indispensável. O enfrentamento à violência sexual requer persistência, vigilância e compromisso com a dignidade humana. Rondônia não pode aceitar ocupar posições de liderança em rankings que evidenciam dor, medo e silêncio. O momento exige escuta, ação e transformação. Qualquer caminho que não conduza à proteção dos corpos e das liberdades será sempre insuficiente.

Enfrentar a violência sexual em Rondônia também passa por fortalecer a escuta social e descentralizar os mecanismos de proteção. A criação de canais permanentes de denúncia, adaptados à realidade local, pode ampliar o acesso à justiça e quebrar ciclos de silenciamento. A sociedade precisa reconhecer que o enfrentamento desse problema não se limita ao poder público, mas depende do compromisso coletivo com a construção de ambientes seguros, informados e atentos às violações que ainda insistem em permanecer escondidas.














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