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O desempenho da balança comercial de Rondônia em agosto revela uma combinação de fatores econômicos e tributários que merecem análise cautelosa. O superávit de mais de US$ 56 milhões é um indicador positivo, mas também um reflexo de uma estrutura fiscal que influencia diretamente o comportamento das importações e exportações no estado.
As exportações seguem ancoradas em produtos do agronegócio, com a soja e a carne bovina à frente da pauta. Esse padrão reafirma a importância do setor primário para a economia rondoniense e evidencia sua inserção nas cadeias internacionais. No entanto, o predomínio de commodities mantém o estado sujeito às oscilações de preços no mercado global, o que exige atenção quanto à necessidade de diversificação produtiva.
Do lado das importações, a liderança do leite e de seus derivados revela o impacto do regime de importação virtual. Prevista em lei estadual, essa prática permite que empresas instaladas em Rondônia se beneficiem de créditos tributários, ainda que as mercadorias não circulem fisicamente pelo território. O resultado é uma elevação estatística nas importações, sem correspondência direta com a dinâmica real do consumo local.
Esse modelo, embora gere arrecadação e estimule a instalação de empreendimentos comerciais, levanta questionamentos sobre a efetiva contribuição dessas operações para o desenvolvimento produtivo do estado.
Quando o fluxo comercial é movido por incentivos fiscais, e não por demanda econômica concreta, corre-se o risco de mascarar a real capacidade industrial e de desviar o foco de políticas voltadas à agregação de valor.
É preciso equilibrar o estímulo tributário com medidas que fortaleçam a base produtiva regional. A competitividade deve estar associada à inovação, à industrialização e à criação de empregos locais, de modo que o crescimento das exportações se traduza em benefícios diretos à população.
Rondônia tem se consolidado como um importante polo exportador, mas a sustentabilidade desse desempenho dependerá de uma estratégia que vá além do campo. O fortalecimento da logística, o investimento em tecnologia agroindustrial e a ampliação da infraestrutura são caminhos indispensáveis para transformar bons resultados mensais em desenvolvimento duradouro.
Os números da balança comercial devem ser interpretados com responsabilidade. O saldo positivo é relevante, mas o desafio maior está em compreender o que ele representa em termos de impacto real sobre a economia e sobre as condições sociais do estado.
Mais do que celebrar índices, é necessário refletir sobre a origem e os efeitos das operações que os sustentam. Um comércio exterior sólido é aquele que, além de gerar superávits, promove crescimento interno, fortalece o setor produtivo e contribui para reduzir desigualdades.
Diário da Amazônia