Porto Velho (RO)21 de Maio de 202508:50:16
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Agro

O futuro da Rondônia Rural Show está na transição da organização para o setor produtivo

Os exemplos dessa guinada são abundantes


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Foto: Reprodução

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Nas últimas décadas, o Brasil assistiu a uma profunda transformação nas feiras do agronegócio. O que antes eram eventos organizados majoritariamente pelo poder público, com forte caráter institucional e expositivo, hoje se tornaram ambientes altamente técnicos, comerciais e estratégicos para o setor produtivo nacional. Essa transição, que começou timidamente nos anos 1990, consolidou-se nos anos 2000, quando cooperativas, associações e empresas privadas passaram a liderar a organização desses eventos, promovendo uma gestão mais profissionalizada e afastada de interesses político-partidários.

Exemplos dessa guinada são abundantes. A Agrishow, criada em 1994, é hoje comandada pela ABIMAQ (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos) em parceria com o setor privado, sendo uma das maiores feiras do mundo. A Tecnoshow Comigo, iniciada em 2002, é organizada por uma cooperativa goiana. O Show Rural Coopavel, desde 1989, pertence a uma cooperativa paranaense que hoje inspira eventos em toda a América Latina - inclusive a Rondônia Rural Show. Até mesmo feiras de menor porte já adotam esse modelo descentralizado, baseado na força do setor produtivo.

Esse modelo tem ganhado cada vez mais força por um motivo evidente: a despolitização do agronegócio. A presença de autoridades políticas ainda é natural e necessária, mas o foco precisa estar no produtor, na tecnologia e no desenvolvimento sustentável — não na disputa de narrativas ou capitalização eleitoral de conquistas do setor.

É dentro desse cenário que se insere a Rondônia Rural Show, que em 2025 chega à sua 12ª edição. Criada e mantida até aqui pelo Governo de Rondônia, por meio da Secretaria de Estado da Agricultura (SEAGRI), a feira é, sem dúvida, um sucesso. Cresceu em volume de negócios, público e importância institucional. Tornou-se uma vitrine para o agronegócio da Amazônia Ocidental. No entanto, diante dos exemplos nacionais, cabe a pergunta: não seria o momento de iniciar a transição para um modelo de gestão compartilhada ou privado?

Não se trata de crítica à gestão pública atual da feira. Ao contrário: ela cumpriu (e ainda cumpre) um papel essencial. Mas nos bastidores, vozes do setor já começam a sugerir que a Rondônia Rural Show está madura o suficiente para ganhar autonomia organizacional. Passar para as mãos de uma associação de produtores, cooperativa estadual ou entidade do agro seria um passo natural para garantir que a feira se consolide como um patrimônio do setor produtivo, e não de uma gestão política específica.

Com isso, ganha-se em neutralidade institucional, estabilidade entre governos, e liberdade para inovar. A feira deixa de estar à mercê de ciclos eleitorais e passa a ser regida por prioridades técnicas e comerciais. Além disso, reforça-se o protagonismo do produtor rural e das cadeias produtivas regionais, valorizando quem efetivamente movimenta a economia agrícola do estado.

A Rondônia Rural Show não precisa perder o apoio do governo. Pelo contrário: pode continuar contando com o poder público como parceiro estratégico, oferecendo estrutura, segurança, isenção fiscal e incentivos. O que está em jogo é o modelo de governança, não o afastamento do Estado.

Em um momento em que o agronegócio brasileiro exige cada vez mais profissionalismo, estabilidade e foco nos resultados, pensar a longo prazo significa também abrir mão do controle político sobre eventos que pertencem, por natureza, ao setor produtivo. E Rondônia tem agora uma oportunidade de liderar esse movimento na região Norte.




Fernando Pereira

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