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Após os 12 dias de guerra entre Israel e Irã, o foco volta-se novamente para a Faixa de Gaza. Apesar das esperanças por novas negociações, a solução para a população palestina no enclave ainda parece distante. Além disso, há expectativas quanto à possível adesão de novos países aos chamados Acordos de Abraão. O plano visa estabelecer relações diplomáticas entre Israel e outros Estados da região, e até mesmo de fora dela.
O próprio Exército de Israel admite estar investigando alegações de que soldados teriam atirado contra moradores da Faixa de Gaza que buscavam ajuda humanitária. A declaração foi divulgada após a publicação de uma matéria no jornal israelense Haaretz, que revelou uma investigação interna sobre possíveis crimes de guerra cometidos por soldados.
O jornal cita militares não identificados que afirmam que as áreas próximas aos centros de distribuição de ajuda humanitária na Faixa de Gaza se tornaram "campos de extermínio", e que teriam recebido ordens para usar munição real no controle da multidão.
Segundo o Haaretz, os episódios com inúmeras vítimas nas imediações dos centros de distribuição estabelecidos pela Fundação Humanitária de Gaza (GHF) foram discutidos em uma reunião. Durante o encontro, o Gabinete do Procurador-Geral Militar (MAG) de Israel orientou o Mecanismo de Avaliação de Apuração de Fatos do Estado-Maior Geral a investigar a suspeita de crimes de guerra.
Esse mecanismo é uma entidade militar independente de Israel, responsável por investigar incidentes incomuns ocorridos durante a guerra.
Oficiais de alto escalão do Comando Sul do Exército de Israel alegaram que os incidentes são episódios isolados e que as tropas só atiram contra palestinos que representam uma ameaça.
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e o ministro da Defesa, Israel Katz, condenaram a matéria, alegando que o jornal promoveu um "libelo de sangue" com "mentiras cruéis destinadas a desacreditar as forças israelenses, o exército mais moral do mundo".
"Libelo de sangue" é um termo que surgiu na Idade Média para designar a falsa acusação de que judeus usavam sangue de crianças cristãs em rituais religiosos. Com o tempo, a expressão passou a ser usada para descrever situações em que teorias conspiratórias resultaram em perseguição, violência e morte de judeus.
Netanyahu cancela depoimentos à Justiça
Após três tentativas, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu conseguiu adiar por uma semana os depoimentos à Justiça nos processos em que é investigado por corrupção.
A Corte Distrital de Jerusalém anunciou o cancelamento dos depoimentos desta semana no processo em que Netanyahu é acusado de suborno, fraude e quebra de confiança.
Inicialmente, o premiê havia solicitado um adiamento de duas semanas por motivos de "diplomacia e interesse de segurança nacional", o que gerou especulações sobre possíveis decisões a serem anunciadas.
O chefe da Inteligência Militar do Exército e o chefe do Mossad, o serviço de inteligência, estiveram presentes na audiência de domingo e explicaram aos juízes por que o adiamento era necessário. O motivo permanece em sigilo.
Sobre o julgamento de Netanyahu, em apenas cinco dias, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, publicou duas mensagens condenando o processo contra o líder israelense. Segundo Trump, trata-se de uma "caça às bruxas" que desvia o foco de tarefas importantes que Netanyahu precisa cumprir.
"Essa farsa de ‘justiça’ vai interferir nas negociações com Irã e Hamas", escreveu Trump na rede social Truth Social.
"É importante ressaltar que ele (Netanyahu) está atualmente negociando um acordo com o Hamas que incluirá o retorno dos reféns", continuou o presidente norte-americano, referindo-se aos 50 reféns israelenses ainda mantidos em cativeiro pelo grupo palestino na Faixa de Gaza.
Cresce a expectativa por anúncio relevante
Logo após o fim da chamada Guerra dos 12 Dias entre Israel e Irã, o presidente Trump passou a insistir no cancelamento do julgamento de Netanyahu.
Em resposta, o premiê israelense agradeceu a Trump e afirmou que o fim da guerra representa uma oportunidade para "expandir o círculo da paz". O Ministério das Relações Exteriores de Israel também passou a utilizar a mesma expressão "círculo da paz" em publicações nas redes sociais e em entrevistas à imprensa.
A RFI entrou em contato com uma fonte de alto escalão e perguntou se o termo seria uma referência aos chamados Acordos de Abraão, assinados em 2020 por Israel, Bahrein e Emirados Árabes Unidos, com mediação dos EUA. O estabelecimento de relações diplomáticas entre Israel e esses países do Golfo é considerado uma das principais conquistas internacionais do primeiro mandato de Donald Trump.
A fonte confirmou a suspeita e afirmou que a expressão, de fato, faz referência à possibilidade de expansão dos acordos, ou seja, à inclusão de novos parceiros. Ainda não se sabe exatamente quais países poderão estabelecer relações diplomáticas com Israel, mas, diante do atual cenário, cresce a expectativa de que isso possa ocorrer em breve.
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