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Em pleno verão amazônico, quando o nível dos rios no Norte do Brasil está naturalmente mais baixo e cada metro cúbico de água deveria ser aproveitado para geração elétrica, a Usina Hidrelétrica de Jirau, em Rondônia, vem liberando água sem produzir energia. O desperdício, segundo a própria empresa, poderia abastecer mais de 2 milhões de residências.
A situação é resultado da baixa demanda de energia, que obriga o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) — responsável pela gestão do Sistema Interligado Nacional (SIN) — a impor cortes na produção da usina.
Com capacidade instalada de 3.750 megawatts (MW), Jirau poderia gerar cerca de 830 MW neste período do ano. No entanto, na última quinta-feira (7), a produção foi de apenas 300 MW — menos da metade do que seria possível nas atuais condições de vazão.
Em uma rede social, o diretor-presidente da Jirau Energia, Edson Silva, afirmou que, diante das baixas afluências, toda a água que chega às turbinas deveria ser transformada em energia elétrica. Ele classificou como "inconcebível" a manutenção de subsídios para novas adesões à micro e minigeração distribuída (MMGD), como sistemas de energia solar instalados em telhados, e defendeu medidas urgentes para conter o crescimento desse modelo.
Silva destacou que, além dos cortes de geração impostos pelo ONS, a hidrelétrica é obrigada a comprar energia no mercado de curto prazo para cumprir contratos, mesmo podendo produzi-la com a água disponível. "Infelizmente, os vertimentos seguem", disse o executivo, referindo-se à liberação de água turbinável sem produção de eletricidade.
O ONS reconhece a complexidade de equilibrar a operação do sistema. Dados do órgão indicam que, até 2029, apenas 45% da capacidade instalada no Brasil estará sob seu controle direto. O restante será composto por fontes intermitentes e descentralizadas, como a micro e minigeração distribuída, que não podem ser despachadas sob demanda.
Segundo o ONS, a expansão acelerada desse modelo, em proporção muito superior ao crescimento da carga e da rede, pode prejudicar a operação de geradores centralizados. "As restrições de geração, como no caso de Jirau, seguem critérios técnicos e operacionais que consideram a segurança do sistema, o perfil de demanda e o equilíbrio entre carga e oferta", informou o órgão.
Já a Associação Brasileira de Geração Distribuída (ABGD) rebateu a crítica e afirmou que a GD não concorre com hidrelétricas, mas atua como aliada estratégica. Para a entidade, por estar próxima dos centros de consumo, a GD reduz a pressão sobre reservatórios e permite o uso mais eficiente da água, especialmente em períodos de seca.
"No caso específico da Usina de Jirau, os vertimentos não estão relacionados à GD, mas sim a decisões operacionais e restrições técnicas do próprio sistema elétrico", afirmou Carlos Evangelista, presidente da ABGD. Ele acrescentou que o modelo ajuda a evitar o uso de termelétricas caras e poluentes, contribui para a redução das bandeiras tarifárias e aumenta a segurança do abastecimento.
Portal SGC