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Em um país de maioria negra, a busca pela aceitação da própria identidade ainda é uma jornada. Num salão especializado, o trabalho com as tranças vai muito além da estética, sendo um ato de empoderamento e resgate cultural.
Num país de raízes profundamente negras, o cabelo sempre foi mais que um acessório. É uma coroa, um símbolo de identidade e história. É neste espaço que essa coroa é entrelaçada com orgulho e técnica. Nas mãos habilidosas do trancista Edmilson Moreira, cada trança é um fio de resistência, um ofício que é uma poderosa ferramenta de transformação da autoestima e fortalecimento da identidade negra.
A caminhada até a aceitação, no entanto, não é simples. Durante décadas, o padrão estético dominante ditou que cabelos lisos eram o ideal de beleza. Essa pressão social fez com que gerações de pessoas negras recorressem a químicas agressivas para alisar os fios, muitas vezes em uma tentativa de se enquadrar.
O processo de transição capilar - a decisão de abandonar os alisamentos e assumir os cachos naturais - é, portanto, muito mais do que uma mudança estética. É um ato político de autoamor e quebra de correntes, como explica o cabeleireiro Lucas Paiv.
A evolução é clara. O que antes era motivo para olhares tortos e situações de preconceito, hoje ganha as passarelas, as novelas e as redes sociais. A estética afro, finalmente, começa a ser celebrada. Mas a jornada de autoaceitação é pessoal e íntima.
O salão, que carrega no nome a representatividade negra, se consolida como mais do que um local de beleza. É um porto seguro, um espaço de acolhimento onde a estética se traduz em afirmação política, autoestima renovada e, acima de tudo, resistência que segue viva e firme, da África para o mundo.
Seja nas mãos habilidosas de um trancista ou no dia a dia de quem exibe com orgulho seus fios naturais, a mensagem é uma só: a estética afro-brasileira é potente, resistente e, acima de tudo, é uma coroa que ninguém mais tira.
Natália Figueiredo - Portal SGC