Porto Velho (RO)14 de Outubro de 202502:46:15
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Rondônia

A Mulher Preta Sofre 3x Mais: Racismo, Patriarcado e Luta por Igualdade

Confira o episódio do Podcast "Põe na Bancada"


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Divulgação

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O episódio mais recente do podcast "Põe na Bancada", apresentado por Roberto Sobrinho, traz uma conversa potente e necessária sobre a realidade das mulheres negras na Amazônia, em Rondônia e no Brasil.

Participam do programa Cleide Blackman — professora, escritora, historiadora e doutora em Educação — e Sandra Braids — rapper, assistente social, trancista e militante do movimento cultural afro-amazônico.

Logo na abertura, Roberto introduz o tema lembrando que as mulheres negras "sustentam o lar, preservam a cultura e lideram lutas sociais", convidando as entrevistadas a refletirem sobre a construção histórica da presença negra em Rondônia. Cleide narra a trajetória de sua família, descendente de barbadianos que trabalharam na Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, e denuncia o racismo histórico presente na forma como a história oficial nomeou o antigo "Alto do Bode", termo que ela contesta como pejorativo e racista.

Sandra recorda os ciclos econômicos — da borracha, dos minérios e das hidrelétricas — que moldaram a formação social de Rondônia e a identidade do povo beiradeiro. Ela explica a diferença entre preto, pardo e negro, destacando que "negro é um termo político e identitário, não apenas uma cor".

No segundo bloco, as convidadas debatem o patriarcado e o machismo estrutural, evidenciando que o sistema patriarcal impõe opressões de forma diferente às mulheres brancas e negras.

"A mulher preta sofre racismo três vezes mais — por ser mulher, por ser negra e por ocupar espaços historicamente negados", afirma Cleide.

Sandra complementa com experiências pessoais de infância e juventude, quando enfrentou o racismo nas escolas e a pressão estética de se adequar a padrões eurocêntricos.

"A mulher negra tem que provar o tempo todo que é boa, bonita, inteligente, competente. É uma cobrança constante", afirma.

O episódio também aborda as políticas públicas e ações afirmativas, como as cotas raciais. Sandra destaca:

"A política de cotas é uma tentativa de reparação histórica, porque a escravidão tirou da gente tudo — nome, identidade, cultura e acesso. Não é privilégio, é direito."

No terceiro bloco, o debate se volta às pautas atuais das mulheres negras, como o combate à violência doméstica, o feminicídio e o racismo religioso.

Sandra, que atua com mulheres vítimas de violência, alerta:

"Rondônia está entre os estados com maior índice de feminicídios. E quando olhamos os dados, vemos que a maioria das vítimas são mulheres negras. A violência tem cor."

Ela também denuncia o avanço da intolerância religiosa contra as religiões de matriz africana:

"O demônio é uma figura criada pelas religiões cristãs. Na nossa fé, ele não existe. Então, não tem por que demonizarem o candomblé e a umbanda."

Cleide, por sua vez, destaca o retrocesso recente na educação e na cultura, lembrando o ataque a livros e a perseguição a educadores antirracistas:

"Vivemos uma espécie de nova inquisição, onde querem apagar obras e silenciar vozes negras. É um racismo institucional."

No encerramento, ambas deixam mensagens de força e esperança.

Sandra canta trechos do seu rap "Me Respeita", reafirmando a resistência feminina dentro do movimento hip-hop:

"Só por eu ser mulher, quer pisar em cima? Chegou a minha vez, vou fazer isso na rima."

E Cleide encerra com a inspiração de Conceição Evaristo:

"Eu não estou aqui para ser o primeiro ou o segundo lugar. O meu objetivo é abrir caminhos para que outras mulheres venham com a gente."

Exibição:

Rede TV - Sábado, às 19h30

TV Cultura - Terça, às 20h30

🎧 Disponível também no YouTube e Spotify

🔗 https://youtu.be/Ui5INCGfb6A














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