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O desmantelamento de uma organização criminosa especializada em comercializar ilegalmente créditos de carbono na Amazônia revela não apenas a sofisticação do crime ambiental no Brasil, mas também as graves falhas nos sistemas de controle e fiscalização.
A operação Expurgare, deflagrada pela Polícia Federal no Dia Internacional Contra a Corrupção, transcorrido na última segunda-feira, 9, resultou na apreensão e bloqueio de bens avaliados em cerca de R$ 1 bilhão, um montante que dimensiona a escala dessa atividade ilícita. O mais preocupante, contudo, é a participação de servidores públicos do Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (IPAAM) em posições estratégicas, que teriam facilitado a emissão de licenças fraudulentas e a suspensão irregular de multas.
Este caso exemplifica como a corrupção sistêmica pode comprometer a preservação ambiental e a credibilidade do mercado de créditos de carbono, um instrumento fundamental para o combate às mudanças climáticas. A investigação, que já está em sua terceira fase, revelou um esquema complexo que começou com fraudes fundiárias em Lábrea (AM) e evoluiu para a manipulação do Sistema de Gestão Fundiária, com ramificações em três estados.
O valor dos bens bloqueados e a sofisticação do esquema indicam que não estamos lidando com criminosos amadores, mas com uma estrutura organizada que opera há mais de uma década. A tentativa dos investigados de ocultar patrimônio, incluindo apartamentos de alto padrão, demonstra o planejamento minucioso dessa organização criminosa.
Esta operação deve servir como alerta para a necessidade urgente do Brasil fortalecer os mecanismos de controle e fiscalização ambiental. É fundamental também implementar sistemas mais robustos de verificação de documentos e licenças ambientais, além de aumentar a transparência nas transações envolvendo créditos de carbono.
O caso também evidencia a importância de investir em tecnologia e capacitação profissional para combater crimes ambientais cada vez mais sofisticados. A sociedade precisa exigir maior rigor na seleção e monitoramento dos servidores públicos em posições estratégicas, além de apoiar o fortalecimento das instituições de controle e fiscalização.
O combate efetivo a esse tipo de crime exige uma ação coordenada entre diferentes esferas governamentais e o aprimoramento constante das ferramentas de investigação. O sucesso desta operação demonstra que é possível enfrentar o crime organizado ambiental, desde que haja vontade política e recursos adequados. O próximo passo deve ser a criação de mecanismos que previnam, e não apenas punam, essas práticas criminosas.
Diário da Amazônia