Porto Velho (RO)26 de Abril de 202505:23:25
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Festival de culturas indígenas exige ações além da celebração institucional

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A realização do 1º Festival de Culturas Indígenas de Rondônia, nos dias 19 e 20 de abril, marca um passo importante — embora ainda inicial — na consolidação de políticas públicas que dialoguem com a diversidade étnica no estado. Ao reunir representantes de diferentes povos originários em um evento de visibilidade pública, Rondônia sinaliza sua disposição de fortalecer o reconhecimento das expressões culturais indígenas e promover espaços de escuta e valorização.

A importância desse reconhecimento de alteridade transcende a mera celebração pontual. Trata-se de uma resposta, ainda que parcial, à histórica invisibilização de culturas que são parte estrutural da formação social e cultural da região. A cultura indígena, marcada por línguas, saberes, práticas, cantos, rituais e artes, é frequentemente relegada a um papel periférico nos espaços institucionais e nas políticas de fomento cultural. Inserir essas manifestações no centro do debate público é um avanço necessário para o amadurecimento democrático de qualquer sociedade que se proponha ser plural.

Por outro lado, é preciso reconhecer que a promoção de um festival, por mais simbólico que seja, não pode ser confundida com a efetivação de direitos. O desafio que se impõe após os aplausos e as exposições é o de transformar essa abertura em ações estruturantes e permanentes. A valorização cultural dos povos indígenas só será completa quando acompanhada por medidas concretas de proteção territorial, garantia de acesso à saúde, educação bilíngue, segurança alimentar e respeito à autodeterminação.

Eventos como esse podem ser eficazes plataformas de sensibilização, sobretudo junto ao público urbano, pouco familiarizado com as realidades indígenas contemporâneas. No entanto, é necessário cuidado para que a cultura não seja tratada como espetáculo desconectado da realidade cotidiana dessas comunidades. Exibir cantos e danças tradicionais em espaços institucionais é importante, mas precisa caminhar lado a lado com o fortalecimento das comunidades em seus territórios.

O desafio da inclusão verdadeira não se resolve em dois dias de programação. Ele passa por compromissos de longo prazo, por escuta ativa das lideranças, por investimentos regulares e pelo respeito às especificidades de cada povo. Que o Festival sirva, ao menos, como ponto de partida — e não de chegada — para políticas públicas mais abrangentes, que não apenas reconheçam, mas também assegurem os direitos dos povos indígenas em Rondônia. O caminho está lançado; resta agora percorrê-lo com coerência, constância e responsabilidade.

Portal SGC

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