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Mercúrio, o planeta mais próximo do Sol, sempre despertou curiosidade entre cientistas devido à sua composição e origem. Embora muitos meteoritos encontrados na Terra sejam provenientes do cinturão de asteroides, há registros de fragmentos vindos da Lua e de Marte. No entanto, até hoje, nenhum meteorito foi confirmado como originário de Mercúrio, o que representa um enigma para a comunidade científica.
Recentemente, estudos têm sugerido que dois meteoritos encontrados no Norte da África podem ter vindo desse planeta rochoso. Se essa hipótese for comprovada, será possível obter informações inéditas sobre a formação e evolução de Mercúrio, já que missões espaciais para coletar amostras diretamente de sua superfície são extremamente complexas e custosas.
Por que é tão difícil encontrar meteoritos de Mercúrio?
O principal desafio para identificar meteoritos mercurianos está relacionado à proximidade do planeta com o Sol. Essa posição dificulta tanto o envio de missões espaciais quanto a ejeção de fragmentos que possam alcançar a Terra. Além disso, os meteoritos precisam sobreviver a uma longa jornada pelo espaço e à entrada na atmosfera terrestre, o que reduz ainda mais as chances de encontrá-los.
Quais meteoritos podem ter origem em Mercúrio?
Entre os meteoritos analisados, destacam-se o Ksar Ghilane 022 e o Northwest Africa 15915. Ambos apresentam características minerais semelhantes às observadas na crosta de Mercúrio, como a presença de olivina, piroxena, plagioclásio sódico e oldhamita. Esses minerais coincidem com dados obtidos pela missão Messenger da NASA, que estudou a superfície mercuriana entre 2011 e 2015.
Ksar Ghilane 022: Possui composição mineral compatível com previsões para a crosta de Mercúrio.
Northwest Africa 15915: Apresenta semelhanças químicas e estruturais com o primeiro, sugerindo origem comum.
Apesar dessas semelhanças, há diferenças importantes. Por exemplo, ambos os meteoritos contêm apenas pequenas quantidades de plagioclásio, enquanto a superfície de Mercúrio possui uma concentração muito maior desse mineral. Além disso, a idade estimada dessas amostras é de cerca de 4,5 bilhões de anos, mais antiga do que as superfícies mais velhas conhecidas de Mercúrio.
Como é possível confirmar a origem de um meteorito?
Vincular um meteorito a um planeta específico exige uma combinação de análises laboratoriais e dados de missões espaciais. No caso da Lua, amostras trazidas pelas missões Apollo permitiram identificar meteoritos lunares encontrados na Terra. Para Marte, a comparação entre gases presos nos meteoritos e a atmosfera marciana ajudou na identificação.
Atualmente, a missão BepiColombo, resultado de uma parceria entre as agências espaciais europeia e japonesa, está em órbita de Mercúrio e deve fornecer dados de alta resolução nos próximos meses. Essas informações poderão ajudar a esclarecer se os meteoritos africanos realmente vieram do planeta mais próximo do Sol.
O que a descoberta de meteoritos de Mercúrio pode revelar?
Se confirmada a origem mercuriana desses meteoritos, será possível avançar no entendimento sobre a composição, idade e evolução da crosta do planeta. Além disso, essas amostras podem fornecer pistas sobre a presença de determinados minerais e a história geológica de Mercúrio, aspectos que permanecem pouco conhecidos devido à dificuldade de acesso ao planeta.
O debate sobre a origem desses meteoritos deve continuar nos próximos anos, especialmente com a chegada de novos dados da missão BepiColombo e discussões em eventos científicos internacionais. A busca por fragmentos de Mercúrio segue como um dos grandes desafios da ciência planetária, prometendo novidades que podem transformar o conhecimento sobre o Sistema Solar.
Correio Braziliense