Porto Velho (RO)23 de Fevereiro de 202507:23:52
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Metrópole amazônica completa 110 anos repensando seu destino

Confira o editorial


Porto Velho completa 110 anos de instalação refletindo a complexa história da ocupação amazônica. Nascida em 2 de outubro de 1914 durante a construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, a capital rondoniense carrega em sua trajetória as contradições do desenvolvimento na Região Norte. A cidade surgiu como um improviso, um acampamento de trabalhadores que construíam a ferrovia conhecida como "Ferrovia do Diabo". O empreendimento custou milhares de vidas e simbolizou o primeiro grande projeto de integração regional, ainda que motivado pelos interesses da exploração da borracha.

Ao longo de sua história, Porto Velho experimentou ciclos econômicos que moldaram sua identidade. Do período áureo da borracha à corrida pelo ouro nos garimpos, da pecuária extensiva à instalação das hidrelétricas do Madeira, cada momento trouxe prosperidade momentânea seguida de desafios estruturais que persistem. A transformação de Território Federal em estado, em 1981, inaugurou uma nova fase. Porto Velho passou a concentrar investimentos e serviços públicos, atraindo migrantes de todas as regiões do país. Este processo acelerado de urbanização, entretanto, não foi acompanhado pelo planejamento necessário.

Hoje, com mais de 550 mil habitantes, a cidade apresenta indicadores sociais preocupantes. O saneamento básico atende apenas 3% da população, um dos piores índices entre as capitais brasileiras. A mobilidade urbana é precária, com transporte público, apesar de algum avanço, ainda é deficiente e o sistema viário não acompanhou o crescimento populacional da cidade. Por outro lado, Porto Velho demonstra vigor econômico. É polo de serviços para toda a região, possui importante porto fluvial e aeroporto internacional, além de universidades que formam profissionais para diversos setores. O agronegócio e o comércio exterior, via Bolívia e Peru, abrem perspectivas promissoras.

A cidade também enfrenta o desafio de conciliar desenvolvimento com preservação ambiental. Situada entre dois grandes rios amazônicos, o Madeira e o Jamari, precisa encontrar modelos sustentáveis de crescimento que respeitem seu entorno natural e as comunidades tradicionais. Ao completar 110 anos de instalação, a capital rondoniense precisa superar a lógica dos ciclos econômicos efêmeros. É fundamental estabelecer políticas de longo prazo que priorizem infraestrutura básica, educação, saúde e preservação ambiental. O momento exige maturidade administrativa para transformar potencialidades em desenvolvimento efetivo.

A história centenária da capital rondoniense demonstra sua capacidade de reinvenção. Agora, é necessário aprender com os erros do passado para construir um futuro mais equilibrado, onde o progresso econômico dialogue com qualidade de vida e sustentabilidade.


Diário da Amazônia

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