Porto Velho (RO)23 de Fevereiro de 202506:01:41
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Concessão da BR-364 gera esperança e dúvidas no estado de Rondônia

Confira o editorial


Alicitação da BR-364, marcada para o próximo dia 27 de fevereiro, representa um marco histórico para Rondônia e para o país. Será a primeira rodovia federal do estado a ser transferida para a iniciativa privada, em um projeto que promete investimentos de R$ 10,226 bilhões ao longo de 30 anos. A iniciativa, batizada de "Rota Agro Norte", visa modernizar uma das principais vias de escoamento da produção agropecuária do Norte do Brasil, conectando o oeste do Mato Grosso a Rondônia e ao Acre. No entanto, como toda grande obra de infraestrutura, o projeto traz consigo uma série de desafios e questionamentos que merecem atenção.

A rodovia é, sem dúvida, uma via estratégica para o agronegócio brasileiro. Por ela circulam toneladas de grãos, especialmente soja, que dependem de uma logística eficiente para chegar aos portos da Região Norte e, de lá, ao mercado internacional. A duplicação de trechos, a construção de faixas adicionais e a modernização de acessos prometem não apenas melhorar a fluidez do tráfego, mas também reduzir custos logísticos e aumentar a competitividade da produção local. Além disso, a geração de quase 95 mil empregos diretos e indiretos é um alento para uma região que busca aquecer sua economia e melhorar a qualidade de vida de sua população.

No entanto, é preciso ponderar os benefícios com os possíveis impactos negativos. Um dos pontos mais sensíveis é o custo dos pedágios. Estimativas indicam que um automóvel pagará R$ 112,50 no trajeto completo, enquanto caminhões e bitrem poderão desembolsar até R$ 2 mil em viagens de ida e volta. Para os produtores rurais, esse valor se traduz em um aumento de quase 2% no frete por saca de soja transportada. Em um setor onde as margens de lucro já são apertadas, qualquer aumento de custo pode significar perda de competitividade. A pergunta que fica é: até que ponto o ganho em eficiência logística compensará o aumento dos gastos com pedágios?

Outro aspecto que merece atenção é a transparência no processo de concessão. O Sistema Federação da Agricultura e Pecuária de Rondônia (Faperon) já alertou para a necessidade de fiscalização rigorosa, garantindo que as obras sejam entregues dentro dos prazos e com a qualidade prometida. A história recente das concessões rodoviárias no Brasil mostra que nem sempre as promessas são cumpridas à risca. É fundamental que haja mecanismos de controle e penalidades claras para evitar que o projeto se torne mais um caso de investimento mal executado.

Além disso, é preciso considerar o impacto social da concessão. A BR-364 não é apenas uma via de escoamento de mercadorias; é também uma estrada que conecta comunidades, facilita o deslocamento de pessoas e influencia diretamente a vida de milhares de cidadãos. O aumento dos custos de pedágio pode limitar o acesso de pequenos produtores e moradores locais, criando uma barreira econômica que vai na contramão do desenvolvimento regional.

Diante desses desafios, é essencial que o governo e a iniciativa privada trabalhem em conjunto para garantir que os benefícios da concessão superem os custos. A tarifa de pedágio, por exemplo, poderia ser subsidiada para pequenos produtores e moradores locais, minimizando os impactos negativos. Além disso, é importante que haja um diálogo aberto com a sociedade civil, ouvindo as demandas de quem utiliza a rodovia diariamente.

Diário da Amazônia

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