Porto Velho (RO)23 de Fevereiro de 202507:01:12
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Quando a bola substitui a bala no combate ao crime

Confira o editorial


Um vídeo que circula nas redes sociais, mostrando um policial militar jogando bola com crianças no residencial Orgulho do Madeira, em Porto Velho, representa muito mais que um simples momento de descontração. É um poderoso símbolo de transformação nas relações entre força policial e comunidade, especialmente considerando o histórico recente do local, manchado pela execução de um PM.

Esta cena aparentemente corriqueira revela uma mudança estratégica fundamental no policiamento comunitário, demonstrando que a segurança pública eficaz vai muito além do enfrentamento armado e das operações ostensivas. O episódio nos convida a uma reflexão profunda sobre os paradigmas de segurança pública e a necessidade de reconciliação entre polícia e sociedade.

É preciso reconhecer que a aproximação com a comunidade não diminui a autoridade policial — pelo contrário, a fortalece. Quando um agente de segurança se permite participar de momentos lúdicos com crianças, está construindo pontes de confiança que podem perdurar por gerações. Estas crianças, que hoje brincam com um policial, desenvolvem uma percepção diferente das forças de segurança, quebrando o ciclo de desconfiança e antagonismo que muitas vezes marca essa relação.

No entanto, é fundamental equilibrar esta abordagem humanizada com as necessárias ações de combate ao crime. O mesmo residencial que testemunhou a brutal execução de um policial agora vê seus agentes desarticulando grupos criminosos e, simultaneamente, construindo laços com os moradores. Esta dualidade não é contraditória, é complementar.

O episódio nos mostra que é possível e necessário manter o rigor no combate à criminalidade sem perder a capacidade de dialogar e interagir positivamente com a comunidade. A polícia mais eficiente não é necessariamente a mais temida, mas aquela que consegue equilibrar autoridade com respeito e proximidade.

A transformação de um ambiente marcado pela violência em um espaço de interação positiva entre polícia e comunidade não acontece da noite para o dia. Requer persistência, estratégia e, sobretudo, mudança de mentalidade de ambos os lados. O vídeo que hoje viraliza nas redes sociais é um pequeno, mas significativo passo nessa direção.

É essencial que iniciativas como esta não sejam vistas apenas como ações isoladas de relações públicas, mas como parte de uma política consistente de segurança pública que entende a importância do policiamento comunitário. O desafio é institucionalizar estas práticas, transformando-as em política permanente, independente de gestões ou conjunturas.

O saldo positivo desta aproximação beneficia a todos: a comunidade ganha uma polícia mais humana e acessível; as forças de segurança conquistam aliados valiosos no combate ao crime; e a sociedade como um todo avança em direção a um modelo mais maduro e eficaz de segurança pública.


Diário da Amazônia

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