A decisão do Governo de Rondônia de abandonar o projeto de construção do Hospital de Urgência e Emergência (Heuro) em Porto Velho, após quase 14 anos de promessas, atrasos e investimentos mal geridos, é um retrato emblemático dos desafios crônicos que assolam a gestão pública no Brasil. O anúncio de que o Estado optou por comprar um hospital já existente, em vez de concluir a obra, pode ser visto como uma solução pragmática diante de um cenário caótico. No entanto, também evidencia a falta de planejamento, transparência e continuidade administrativa que tanto prejudicam o desenvolvimento de políticas públicas essenciais, como a saúde.
Desde o seu lançamento em 2012, o projeto do Heuro foi marcado por uma sucessão de erros e controvérsias. A proposta inicial, ambiciosa e necessária, prometia desafogar o superlotado Hospital João Paulo II e oferecer à população uma estrutura moderna, com 268 leitos, salas cirúrgicas, UTIs e até um heliporto. No entanto, o que se viu foi uma série de paralisações, investigações por suposto desvios de recursos, licitações contestadas e licenças cassadas. O sonho de um hospital de ponta transformou-se em um pesadelo burocrático e financeiro.
A decisão de adotar um "plano B" — a compra de um hospital já existente — pode ser interpretada como um reconhecimento tácito de que o projeto original se tornou inviável. Por um lado, a medida parece sensata: diante de tantos obstáculos, é preferível garantir uma solução rápida para a população, que há anos espera por melhorias no atendimento de urgência e emergência. Por outro, no entanto, surge a dúvida sobre se essa alternativa será capaz de suprir as necessidades que justificaram a construção de um novo hospital.
Um estabelecimento já existente terá a mesma capacidade e estrutura planejada para o Heuro? Ou será apenas uma solução paliativa, que não resolve o problema de fundo? Além disso, é inevitável questionar o custo dessa decisão. Ao longo dos anos, milhões de reais foram investidos em estudos, licitações e processos que não resultaram em um único tijolo colocado. Agora, com a compra de um hospital, novos recursos serão desembolsados.
Será que o dinheiro público foi bem utilizado? E mais: o que será feito do terreno e dos projetos já desenvolvidos para o Heuro? Essas perguntas não podem ficar sem resposta, pois envolvem a responsabilidade do poder público com o erário e com a população de Rondônia. Outro aspecto preocupante é a falta de continuidade nas políticas públicas.
O projeto do Heuro passou por várias gestões, cada uma com suas prioridades e estratégias, mas nenhuma conseguiu concluí-lo. Essa descontinuidade é um mal que afeta não apenas Rondônia, mas todo o Brasil. Projetos de longo prazo, essenciais para o desenvolvimento do país, são frequentemente interrompidos ou abandonados com as mudanças de governo, gerando desperdício de recursos e frustração na população.
Diário da Amazônia