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O avanço da pavimentação da RO-420, entre Nova Mamoré e Buritis, traz à tona um debate fundamental sobre a forma como a sociedade lida com a relação entre desenvolvimento e preservação cultural. Estradas são, historicamente, símbolos de integração e progresso, pois conectam comunidades, ampliam fluxos econômicos e facilitam o acesso a serviços. No entanto, a execução de obras dessa magnitude não pode ignorar os impactos sobre o patrimônio cultural existente no território. O desafio, portanto, está em equilibrar a urgência da infraestrutura com a responsabilidade de proteger a memória coletiva.
A legislação brasileira estabelece critérios claros para esse equilíbrio. O licenciamento ambiental inclui etapas que vão além da proteção da fauna e da flora, incorporando a necessidade de resguardar sítios arqueológicos e outros bens culturais. Essa exigência não deve ser vista como um obstáculo ao desenvolvimento, mas como um mecanismo que garante a sustentabilidade do próprio processo de expansão. O cumprimento das orientações do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan)assegura que cada avanço em infraestrutura ocorra de forma responsável e permanente.
Os estudos arqueológicos representam mais do que uma formalidade legal. Eles constituem a oportunidade de recuperar fragmentos da história que, de outra forma, poderiam ser apagados pelas obras modernas. Cada vestígio encontrado, seja cerâmica, utensílio ou estrutura, carrega consigo informações preciosas sobre modos de vida, práticas sociais e sistemas de organização que moldaram a trajetória de povos antigos. Trata-se de uma memória que não pertence apenas a um grupo específico, mas ao conjunto da sociedade, que dela se beneficia para compreender sua própria formação.
Ao mesmo tempo, não se pode ignorar a relevância da rodovia para a população local. A pavimentação da RO-420 não é apenas uma obra de engenharia, mas um elo que permitirá maior mobilidade, agilidade no escoamento da produção agropecuária e integração regional. Os impactos econômicos tendem a ser significativos, promovendo desenvolvimento em municípios que dependem diretamente da qualidade das estradas. Dessa forma, a dualidade entre progresso e preservação não deve ser interpretada como um conflito, mas como uma relação complementar.
Preservar o patrimônio cultural durante a execução de obras viárias é reconhecer que o futuro se constrói sobre o passado. A estrada, quando concluída, será mais do que um canal de transporte: será também símbolo de um processo em que o crescimento se deu de forma consciente, respeitando os vestígios que contam a história da região. Essa postura contribui para que o desenvolvimento seja duradouro, evitando perdas irreversíveis de um legado que não pode ser reconstruído. Assim, a obra RO-420 nos mostra infraestrutura e memória podem e devem caminhar lado a lado, como parte de um mesmo projeto de sociedade.
Diário da Amazônia