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A inspeção nas barragens Jacaré Superior e Jacaré Inferior, no distrito de Bom Futuro, em Ariquemes, evidencia um quadro que vai além dos aspectos técnicos , alcançando dimensões sociais, ambientais e institucionais. A fiscalização do Ministério Público Federal, acompanhada por órgãos de controle e forças policiais, revelou fragilidades estruturais que não podem ser negligenciadas diante do histórico nacional de acidentes com barragens.
O risco no talude da barragem Jacaré Superior é um alerta à adoção de medidas preventivas em áreas de mineração. O fato de o problema estar ligado a um canal aberto no início da atividade garimpeira reforça como práticas antigas podem gerar impactos persistentes. A recomendação de desvio do rio, condicionada a estudos técnicos e licenciamento ambiental, mostra que soluções devem ser planejadas com base em ciência e responsabilidade.
Outro ponto é a ausência de videomonitoramento. O argumento sobre possíveis furtos não elimina a necessidade de mecanismos de vigilância. A integridade das barragens não é apenas questão patrimonial, mas de segurança coletiva. O monitoramento em tempo real é indispensável para prevenir acidentes e garantir respostas imediatas em situações de risco.
A realidade de Bom Futuro acrescenta uma complexidade. A dependência quase total da mineração como fonte de renda, somada à precariedade das condições de vida, amplia a vulnerabilidade da comunidade. Quando estruturas de rejeitos apresentam fragilidades, o impacto potencial atinge não apenas o meio ambiente, mas também a população.
Cabe ao poder público assegurar que interesses econômicos não se sobreponham à proteção da vida, da natureza e da dignidade social. A negativa ao pedido de redução do grau de risco das barragens, reafirma a necessidade de padrões rigorosos de segurança. Qualquer flexibilização poderia abrir caminho para consequências irreversíveis.
A decisão do Ministério Público Federal de requisitar toda a documentação da fiscalização à Agência Nacional de Mineração é um passo importante para garantir transparência e embasar futuras medidas. A sociedade tem direito de saber quais riscos estão presentes e quais ações estão sendo adotadas. A confiança pública depende de rigor técnico, clareza e responsabilidade compartilhada.
O que preocupa é que o caso de Bom Futuro não é isolado. Ele reflete desafios comuns a regiões mineradoras, onde comunidades vivem entre a promessa de desenvolvimento e a ameaça de desastres ambientais. O equilíbrio entre exploração econômica e preservação ambiental deve ser tratado como política de Estado, sustentada por fiscalização constante, inovação tecnológica e compromisso social.
As inspeções em Ariquemes representam um chamado à construção de uma cultura de segurança, que exige a cooperação de empresas, cooperativas, órgãos reguladores e sociedade, com foco em soluções que evitem tragédias e promovam desenvolvimento sustentável. A oportunidade de corrigir fragilidades está posta; ignorá-la seria permitir que riscos conhecidos se transformem em danos irreparáveis.
Diário da Amazônia