A elevação dos casos de doenças respiratórias em crianças registrada em Rondônia exige uma análise que vá além dos números e dos dados oficiais. O crescimento de 47% nos atendimentos hospitalares em apenas uma unidade de referência pediátrica é um indicador inequívoco de que o problema não se limita ao âmbito das famílias. Ele alcança a esfera coletiva e se projeta como questão urgente de saúde pública.
A associação entre queimadas e tempo seco tem sido uma constante em determinadas regiões do país, mas os efeitos dessa combinação tornam-se mais visíveis quando atingem populações vulneráveis, como é o caso das crianças. O organismo infantil apresenta menos resistência às agressões externas, e isso potencializa os riscos de complicações. Cada episódio de tosse persistente, febre alta ou falta de ar se transforma em motivo de apreensão para os pais, que muitas vezes precisam recorrer a hospitais já sobrecarregados.
Nesse cenário, a resposta do sistema de saúde revela tanto a capacidade de reorganização em momentos de crise quanto os limites estruturais enfrentados pelas unidades. A necessidade de priorizar os casos mais graves, readequar fluxos internos e distribuir recursos humanos demonstra esforço para atender a uma demanda crescente. No entanto, tais medidas não eliminam a pressão que a sobrecarga impõe a médicos, enfermeiros e demais profissionais.
A dimensão do problema não se esgota no atendimento imediato. A fumaça das queimadas, ao se acumular na atmosfera e se somar à baixa umidade, cria um ambiente que favorece a propagação de doenças respiratórias e compromete o bem-estar coletivo. Essa situação expõe, de forma contundente, a interdependência entre meio ambiente e saúde. O ar que se respira deixa de ser apenas um componente natural e passa a ser um vetor de risco.
Outro aspecto que merece ser considerado é a prevenção. Orientações para manter crianças hidratadas, em locais ventilados e longe da fumaça, embora necessárias, encontram limitações. Muitas famílias não dispõem de condições adequadas para seguir integralmente tais recomendações. Em comunidades mais vulneráveis, a dificuldade em garantir ambientes livres de poluição doméstica ou acesso rápido a serviços médicos amplia os riscos.
O desafio, portanto, não é apenas hospitalar. Ele envolve planejamento integrado, políticas públicas consistentes e, sobretudo, ações preventivas que considerem as condições ambientais. O aumento de internações pediátricas deve ser interpretado como um sinal de alerta que aponta para a necessidade de reduzir as causas do problema, não apenas lidar com as consequências.
A reflexão que se impõe é clara: quando a degradação ambiental se traduz em emergências médicas, a responsabilidade de enfrentamento não pode recair exclusivamente sobre hospitais e profissionais da saúde. Trata-se de um desafio coletivo que requer atenção prioritária de gestores, sociedade e instituições. Garantir que crianças cresçam em ambientes mais saudáveis é, antes de tudo, uma obrigação que ultrapassa o campo da medicina.
Diário da Amazônia