Porto Velho (RO)09 de Novembro de 202410:18:21
EDIÇÃO IMPRESSA
RONDÔNIA

Do favoritismo à derrota: a lição das urnas em Porto Velho

Confira o editorial


Imagem de Capa

Foto: Reprodução

PUBLICIDADE

A eleição municipal deste ano em Porto Velho revelou como estratégias políticas tradicionais podem falhar diante de novas dinâmicas eleitorais. Isso levou a uma das maiores reviravoltas eleitorais da história política rondoniense. Mariana Carvalho (União Brasil), que havia conquistado 111.329 votos (44,53%) no primeiro turno contra 64.125 (25,65%) de Léo Moraes (Podemos) — uma diferença expressiva de 47.204 votos — não apenas perdeu a liderança como também registrou uma queda de 5.923 votos em sua votação final.

O apoio explícito do ex-presidente Jair Bolsonaro demonstrou ser uma faca de dois gumes. Se por um lado consolidou sua base conservadora, por outro provocou uma forte rejeição entre eleitores moderados e independentes, que acabaram migrando para Léo Moraes.

O racha no União Brasil, materializado no apoio público do deputado Fernando Máximo a Léo Moraes, demonstrou-se decisivo também. Estimativas indicam que aproximadamente 20% dos votos originalmente alinhados ao partido migraram para o candidato do Podemos, representando cerca de 22 mil votos.

O aumento significativo das abstenções também não pode ser ignorado. No primeiro turno 93.663 eleitores (25,86%) não compareceram às urnas para votar. No segundo turno esse número subiu para 110.962 votos (30,63%) representando um acréscimo de 17.299 eleitores que deixaram de votar. Este crescimento de 4,77 pontos percentuais nas abstenções foi particularmente prejudicial à candidatura de Mariana Carvalho.

 A análise geográfica do aumento das abstenções revela que elas foram mais acentuadas em zonas eleitorais onde ela havia tido melhor desempenho no primeiro turno

Já a dinâmica dos votos brancos e nulos entre os turnos revela um fenômeno crucial para a vitória de Léo Moraes. No primeiro turno, os votos brancos (7.371 - 2,74%) e nulos (11.201 - 4,17%) totalizaram 18.572 votos (6,91%). Já no segundo turno, estes números caíram para 3.619 brancos (1,44%) e 7.143 nulos (2,84%), somando 10.762 votos (4,28%) — uma redução de 7.810 votos.

Esta expressiva queda indica que eleitores que anteriormente não haviam se posicionado decidiram fazer uma escolha efetiva no segundo turno. O padrão de votação sugere que Léo Moraes foi o principal beneficiário desta definição, conseguindo captar aproximadamente 70% destes votos que migraram de brancos e nulos para votos válidos.

Este movimento foi decisivo pois, além de compensar o aumento das abstenções, contribuiu significativamente para a virada no resultado, demonstrando que sua estratégia de campanha foi mais eficaz em conquistar eleitores inicialmente indecisos ou insatisfeitos com as opções do primeiro turno.

Há ainda a questão da estratégia adotada por Léo Moraes que provou ser extremamente eficaz, ao se posicionar como o "candidato do povo" versus o "establishment político" de Rondônia, tática, aliás, usada por Jânio Quadros para vencer a eleição presidencial de 1960. Enquanto Mariana apostava na força das lideranças políticas tradicionais, Léo construiu uma narrativa de proximidade com o cidadão comum que ressoou fortemente no eleitorado, principalmente nas periferias. Todos esses fatores somados resultaram na virada histórica de Léo Moraes no último domingo.









Diário da Amazônia

Últimas notícias de RONDÔNIA